Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

sábado, 13 de novembro de 2010

Castanheiros e Castanhas


"Mas o fruto dos frutos, o único que ao mesmo tempo alimenta e simboliza, cai dumas árvores altas, imensas, centenárias, que, puras como vestais, parecem encarnar a virgindade da própria paisagem. Só em Novembro as agita uma inquietação funda, dolorosa, que as faz lançar ao chão lágrimas que são ouriços. Abrindo-as, essas lágrimas eriçadas de espinhos deixam ver numa cama fofa a maravilha singular de que falo, tão desafectada que até no próprio nome é doce e modesta - a castanha. Assada, no S.Martinho, serve de lastro à prova do vinho novo. Cozida, no Janeiro glacial, aquece as mãos e a boca de pobres e ricos. Crua, engorda os porcos, com a vossa licença..."
( Miguel Torga)













7 comentários:

José Doutel Coroado disse...

Cara Profª Graça,
belas imagens para um texto a condizer.
abs

Picoes disse...

Acho que é um excelente texto visual. Pois, as tribos pré-romanas chamavam-lhe a árvore do povo e, a titulo de curiosidade, acrescento. O castanheiro é uma árvore que tem em cada pé, simultaneamente, flores masculinas e flores femininas.
É das flores femininas, que estão agrupadas em 2 ou 3 no interior duma cápsula espinhosa, a que se dão nome de "ouriço", que resultam as castanhas. Depois da maturação completa, o ouriço abre em 4 partes, dele se desprendendo o fruto, que tanto pode ser no número de 1, 2 ou 3.
Há cerca de 40 anos atrás havia um costume na minha aldeia que era o de dar o "rebusco" (parcela de castanhas que os proprietários deixavam nas árvores) aos mais pobres. Após uma data determinada, geralmente o dia 11 de Novembro, os mais desfavorecidos tinham autorizção para entrar nas propriedades e colherem os frutos que restavam. Ainda me recordo deste costume.
Não queria alongar-me tanto nesta partilha de curiosidades, desculpe-me.

Graça Gomes disse...

Olá, Duarte!
É com imensa alegria que o recebo neste espaço que é de todos.
E agradeço, também, os oportunos ensinamentos que todos recebemos no que concerne à cultura do castanheiro, nomeadamente sobre a sua reprodução. Para mim, de todo desconhecidos.
Bem haja e volte sempre.
Um beijo.

Luis Pinto disse...

É o fruto que se obtém a partir do castanheiro e um conjunto de castanheiros chama-se souto. Há diversas variedades de castanha: Judia, Lada, Negral, Côta, Longal e Preta. As castanhas têm uma forma arredondada e em bico e um brilho castanho natural. Em Trás-os-Montes foram durante muito tempo uma das principais fontes alimentares, antes de ter surgido a batata.

Marron Glacé disse...

Presume-se que a castanha seja oriunda da Ásia Menor, Balcãs e Cáucaso, acompanhando a história da civilização ocidental desde há mais de 100 mil anos. A castanha constituiu um importante contributo calórico ao homem pré-histórico que também a utilizou na alimentação dos animais.
Os gregos e os romanos colocavam castanhas em ânforas cheias de mel silvestre. Este conservava o alimento e impregnava-o com o seu sabor. Os romanos incluíam a castanha nos seus banquetes. Durante a Idade Média, nos mosteiros e abadias, monges e freiras utilizavam frequentemente as castanhas nas suas receitas. Por esta altura, a castanha, era moída, tendo-se tornado mesmo um dos principais farináceos da Europa.

Flor Bela Encanta disse...

E eis no carro morto o castanheiro, enquanto

Melros assobiam nos trigais além...

Heras amortalham-no em seu verde manto...

Deu-lhe a terra o leite, dá-lhe a aurora o pranto...

Que feliz cadáver, que até cheira bem!...



Musgos, liquens, fetos – química incessante! –

Fazem montões d'almas dessa podridão...

Já nesse esqueleto seco de gigante,

Sob a luz vermelha, num festim radiante,

Mil milhões de vidas pululando estão!...



Sempre à fortaleza casa-se a doçura

Como o leão da Bíblia morto num vergel,

Do seu tronco ainda na caverna escura

Um enxame d'oiro rútilo murmura,

Construindo um favo cândido de mel!...



Oh, os bois enormes, mansos como arminhos,

Meditando estranhas, incubas visões!...

Pousam-lhes nas hastes, vede, os passarinhos,

E por sobre os longos, tórridos caminhos

Dos seus olhos caem bênçãos e perdões...



Chorarão o velho castanheiro ingente,

Sob o qual dormiram sestas estivais?

Almas do arvoredo, o seu olhar plangente

Saberá acaso misteriosamente

Traduzir as línguas em que vós falais?!...



Castanheiro morto! que é da vida estranha

Que no ovário exíguo duma flor nasceu,

E criou raízes, e se fez tamanha,

Que trezentos anos sobre uma montanha

Seus trezentos braços de colosso ergueu?!...



Onde a alma, origem dessas formas belas?

Em tão várias formas que sonhou dizer?

Qual a ideia, ó alma, convertida nelas?

E desfeito o encanto, que nos não revelas,

Que aparências novas tomará teu ser?...



Noite escura!... enigmas!... Ai, do que eu preciso,

Boieirinha linda, linda d'encantar,

É dessa inocência, desse paraíso,

Da alegria d'oiro que há no teu sorriso,

Da candura d'alva que há no teu olhar!...



Grandes bois que adoro, p'ra fortuna minha,

Quem me dera a vossa mansidão cristã!

Arrotear os campos, fecundar a vinha,

E nos olhos garços duma boieirinha,

Ter duas estrelas virgens da manhã!...



E também quisera, mortos castanheiros,

Como vós erguer-me para o Sol a flux,

Dar trezentos anos sombra aos pegureiros,

E num lar de choça, em festivais braseiros,

A aquecer velhinhos, desfazer-me em luz!...


"Guerra Junqueiro"

celestino disse...

Obrigado Graça, por teres trazido esse belo naco de prosa do nosso Adolfo Rocha, acompanhado, aliás, por esses excelentes retratos que tu saber tirar.
Beijinhos