"Entre quem é".
O convite surge e o tom é evocado um pouco por toda a terra transmontana, mas assume um sentido especial em Lebução, onde ainda hoje se conservam muitos hábitos e costumes das primitivas comunidades agro- pastoris. Os hábitos comunitários são aqui muito visíveis no amanho da terra e em todos os trabalhos relacionados com a agricultura e o pastoreio.
Algumas habitações de arquitectura tradicional fazem parte da história desta comunidade, uma forma de saber fazer para transmitir às gerações vindouras, e esta arquitectura tradicional assenta, sobretudo, no granito.
Todavia, estas construções mais antigas têm sido, progressivamente, destruídas em prol do tijolo. No entanto, a aldeia ainda sustenta um núcleo considerável e disperso destas habitações de arquitectura tradicional.
E nestas casas há objectos quase invisíveis, que acompanharam gerações no seu quotidiano e fazem parte da história familiar e local.
Atravessaram séculos, nas portas, inseridos num sistema de comunicação ancestral que simbolicamente contribuía para proteger/ franquear a porta da casa aos visitantes – os garabelhos - objectos rudimentares, toscos, executados por mãos calejadas, que os conceberam e lhes atribuíram funções.
Quando as portas não tinham chave, eram os garabelhos que mantinham as casas fechadas e, ao mesmo tempo, abertas para quem "viesse por bem"...
E a recepção era sempre a mesma:
Entre, entre quem é, que a porta está sempre aberta!
5 comentários:
Cara Profª Graça,
belo post!
abs
Sempre gostei destas coisas verdadeiramente transmontanas. E, já agora, a essas tuas portas e garabelhos juntaria as aldrabas (ou aldrabes?).
Pena é que o tempo vá fazendo perder estas pequenas memórias. Vale que ainda há quem, como tu, as vá preservando desta forma.
Beijinho
Celestino
A Terra
Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Miguel Torga
Das terras de Trás-os-Montes
apartou Deus
o mar
férteis veigas de húmus
deixou em seu lugar
para que transmontano aprendesse
a colher
e semear
Em terras de Trás-os-Montes
na parte mais altaneira
criou Deus a Montanha
com semente de castanha.
E na parte mais ribeira
plantou a Terra Quente
com ramos de oliveira
vindos do oriente
Terra Quente de Fé
Montanha de Esperança
Trás-os-Montes consonância
de suor e rosto
nascer do sol
e sol posto
Sentida terra
Marcadamente agreste
De límpidos silêncios
Minha terra
De tons castanhos
E gestos quentes
Onde se festeja sem frio
O espírito d'Inverno
Com o calor do amor
E a cor da vida
Onde o calor baila
Com a calma da alma
Da terra sentida
Enviar um comentário