Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

sexta-feira, 25 de março de 2011

Mais um atentado ao nosso Património


Há uns dias atrás, ao cair da tarde, embrenhei-me por caminhos bordados de giestas e silvas que, nesta altura do ano, têm o perfume das flores, da terra molhada, e outros, igualmente agradáveis.


A certa altura da caminhada deparei com uma mini pedreira, não sei se poderei chamar-lhe assim, com placas de granito empilhadas e preparadas, penso eu, para serem levadas para Espanha.


É o pão nosso de cada dia, aqui, na minha zona, dizem.


Mas, o mais espantoso, estava perante o meu olhar incrédulo. Uma enorme rocha, com um lagar cavado, fazia parte do amontoado de pedras, prestes a serem lascadas, empilhadas e enviadas para outros lugares, a troco de uns míseros euros. Aí, irão ajudar a recuperar aldeias e vilas, contribuindo para a preservação do património local.

Parei, por uns momentos, envolta em memórias, onde a figura do Drº Adérito Freitas está presente. Os flashs sucedem-se vertiginosa e avassaladoramente e eu revivo momentos de caminhadas em dias frios de Inverno, ou debaixo dum sol abrasador de Verão. Ali está o Drº Adérito, solidário e, muitas, vezes solitário, pesquisando, fotografando, inventariando para compilar aquilo que resta do nosso património, um legado que ele e o Município querem deixar aos vindouros. Vejo-o de vassoura, sacho, escova de arame e outros apetrechos necessários a este árduo trabalho que, dia após dia, ano após ano, vai dando a conhecer, em publicações onde o Município está, também, envolvido.

Olho, novamente, para a rocha onde está cavado o lagar que, ali, descontextualizado e deslocado não faz o menor sentido, e lembro-me das sábias palavras do Drº Adérito, quando foi convidado a visitar um moínho instalado numa escola do Concelho, depois de retirado da margem do Calvo:

- Agora, tragam para cá o rio!

De regresso a casa e, com a rocha onde o lagar está cavado já longe, olho, mais uma vez, para trás e vou pensando que, pouco a pouco, vamos perdendo parte do nosso património, da nossa história.

O nosso Concelho será, um dia, um amontoado de recordações, perpetuado na memória dos mais velhos, e em publicações que o Município financiou e o Drº Adérito Medeiros Freitas publicou.
















3 comentários:

José Doutel Coroado disse...

Cara Profª Graça,
um lamentável fim para este lagar!
abs

João Ratão disse...

Regresso às fragas de onde me roubaram.

Ah! minha serra, minha dura infância!

Como os rijos carvalhos me acenaram,

Mal eu surgi, cansado, da distância!



Cantava cada fonte à sua porta:

O poeta voltou!

Atrás ia ficando a terra morta

Dos versos que o desterro esfarelou.



Depois o céu abriu-se num sorriso,

E eu deitei-me no colo dos penedos

A contar aventuras e segredos

Aos deuses do meu velho paraíso.



«Miguel Torga»

Anónimo disse...

Já que a Prof. Graça gosta tanto de poesia, vou deixar para ela este poema cantiga de raíz popular que se cantava na minha terra noutros tempos.
Parabéns pelo blog.

Tim tim sou de Trás-os-Montes
De Trás-os-Montes terra bravia
Num trono estou colocado
Só vejo Serras e Penadias


Tim Tim olaré Tim Tim
Você diz que não eu digo que sim
Ao romper da bela aurora
Toda a gente canta pela estrada fora

Rua abaixo rua acima
Toda a gente me quer bem
Só a mãe do meu amor
Não sei que raiva me tem.


Tim tim sou de Trás-os-Montes
De Trás-os-Montes, terra sem par
Bem cobertinha de neve
É como a noiva que se vai casar