Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.
É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.
Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.
Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.
A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".
A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Garabelhos - os fechos de outrora
Em Lebução, como em todo o concelho de Valpaços, cultivava-se a hospitalidade e essa hospitalidade estava bem patente na maneira como as pessoas recebiam, sem reservas, em sua casa quem batesse à porta. Esta, durante o dia, estava sempre encostada ao batente, sem recurso à língua da fechadura ou, quando muito, apenas com garabelho ou trinco manejáveis por fora.
Explicar tanta confiança não é tão fácil como parece. Virtudes da terra-mãe que é de todos e todos partilham ou devem partilhar em plena fraternidade? Ou o instinto do sagrado a revelar-se na comunhão com os outros, com aqueles que são nossos irmãos, num âmbito mais alargado? Ou somente o hábito da vida simples em que o dar e o receber fazem parte do dia a dia da vida comunitária?
Estas questões conduzem-nos amavelmente ao mundo do paraíso perdido ou das grandes utopias. A ser assim, a comunidade não é só dos que vivem numa localidade, perto uns dos outros, mas alarga-se ao nosso semelhante, que em princípio é portador da mesma fiabilidade.
A porta de entrada tanto podia ficar ao rés-do-chão como no primeiro piso, ao cimo das escadas. Quem batia nesse tempo era porque ia por bem, precisando de ser atendido e por isso, se estava alguém dentro, ouvia logo: entre quem é. Camilo, o escritor, conta que beneficiou algumas vezes dessa bondade, até em casas bem pobres, e o próprio Zé do Telhado, o salteador, ou "repartidor público" como ele se considerava, foi recebido prontamente em terras de Penaguião, numa noite tempestuosa.
Hoje, em tempos socialmente irrequietos, tumultuosos e violentos, o costume vai rareando, ainda que haja zonas onde, neste caso, a pureza de espírito, quase sempre aliada à pobreza ou ao espírito da pobreza, exclui medos e temores. A porta da rua sempre encostada, cerrada, permite dizer, assim desabrida e fraternamente, a quem bate: entre quem é.
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