Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Não te absolvo!


“Não te absolvo!”


                                                            (Foto retirada da internet)


Era jovem. Ainda mal entrada na adolescência.

Do grupinho das suas amigas havia uma já mais crescida, quase mulher, a namorar com um rapaz que até já ia a sua casa.

O povo falava. O padre desconfiava.

Um dia “correram os banhos” pela Freguesia.

A sua amiga mais crescida, quase mulher, ia casar com o namorado queaté já ia lá a casa dela.
A mais crescida convidou as amigas para o casamento.

O padre avisou a Aninhas para não ir a essa festa.

A Aninhas não deu ouvidos ao padre.

Algum tempo depois era Dia de Confissões.

A Aninhas foi confessar-se.
Ajoelhou-se junto ao confessionário. Benzeu-se. Rezou o acto de contrição. E, quando ia para abrir a boca para os pecados saírem, só teve tempo pra se levantar e sair da Igreja a chorar.

Foi o espanto entre crentes, beatas e pecadores arrependidos.

Derreada com as inquietações e as perguntas de todos, respondeu-lhes:

- o senhor padre , mal levantou os olhos do breviário, olhou para mim e disse-me:

-“Desaparece-me da vista! Não te dou a absolvição”!

Assustados, todos recuaram ao mesmo tempo. E bradaram:

-“Credo in cruz, santu nome de jAsus”!

Mas “atão”?!... - exclamaram com tremendo espanto e em uníssono.

E a Aninhas, lavada em lágrimas, tolhida pela vergonha, aflita com os soluços, foi soletrando:

-“O senhor padre disse que não me absolvia porque eu lhe tinha faltado ao respeito por ter ido ao casamento da Laida”!

No adro, encostado a uma das tílias, estava o Júlio Tralhão, jovem espigadote, estudante no Liceu, e que até «tinha andado no Seminairo» até ao 4º ano. Fazia horas, à espera da «sua» Tina.

Desatinado com o que acabara de «ber e de oubir», levanta a voz e atira para os crentes, beatas e pecadores arrependidos:

-“Ah! Afinal não é Deus quem dá absolvição aos pecados! É o padre, conforme se sente satisfeito ou consolado nas suas vontades, desejos e caprichos!

Pecadores arrependidos, beatas e crentes “meteram o nariz no chão “ e foram cada um para seu lado.

Passados alguns dias, o padre foi de visita a casa dos pais da Aninhas.

Apetecera-lhe uma boa merenda e uma boa pinga.

Nada como ir a casa dos pais da Aninhas, claro está!

Respeitoso e servil, o pai da Aninhas lá ia enchendo o copo ao padre e empurrando para a gula deste mais uma rodela de salpicão, outra de linguiça e duas fatias de presunto, depois de uma alheira frita na sertã e duas assadas nas brasas da lareira já estarem bem acamadas no papo do cura.
Quando o pai da Aninhas teve de ir buscar mais uma caneca de meia canada ao pipote especial, aproveitou para passar pela varanda, onde estava a Aninhas em conversa com umas amigas e com homens e mulheres a cuidar dos trabalhos no quinteiro.

O Ti Zé da Eira disse à filha:
-“Bá! Faz as pazes com o senhor padre. Bai à adega buscar um copo de binho e ofrece-lho”.

- “Nem um copo d’Água”! - gritou, alto e bom som, a rapariga.

Os homens e as mulheres no quinteiro e as amigas na varanda escutaram o que disse o pai d’Aninhas e ouviram o grito da moçoila.

E por toda a Aldeia se espalhou o som das palmas que as da varanda e os do quinteiro desataram a bater!


Romeiro de Alcácer


















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