A casa da Rute foi vendida pelos herdeiros e, consequentemente, foi demolida. Encontraram um depósito de guarda-chuvas, sachos, machadas e afins, que foram faltando nas casas dos vizinhos, e de inutilidades (lixo) que ela arrecadou durante a vida.
São pouco mais de trinta metros quadrados, onde em tempos viveram duas famílias, num total de dez pessoas, distribuídas por uma cozinha, uma outra divisão e uma varandita. Também havia os "baixos" pequenos, mas de grande utilidade.
Há muitos anos que a Rute vivia só. Só, mas não solitária. A sua vida era uma animação. Cantava de manhã à noite, canções que ela inventava, muitas vezes, para magoar as pessoas com quem tinha mau relacionamento. E nisso ela era perita...
Onde pressentisse um conflito aí estava para atiçar, juntar-se a uma das partes e encaminhá-la para o advogado mais competente. Noutros tempos era o Drº Guimarães, com quem tinha uma relação de amizade e, dizem, de angariação de clientes.
Sobre a casa da Rute pairam lendas de tesouros, em escudos, guardados no colchão. Mas todos sabemos que estas e outras lendas sempre fizeram parte do nosso imaginário colectivo...
Tenho da Rute muitas recordações, algumas boas outras nem tanto. Mas há uma que sempre que me vem à memória provoca-me um riso incontrolável.
Por algum motivo desconhecido ela não andava muito bem comigo. E é do conhecimento de todos que eu tenho as minhas raízes familiares em Lamadarcos. Os meus bisavós paternos eram de lá.
A quinta deles tinha uma particularidade: uma parte estava integrada em território espanhol.
Ora a Rute, sabendo disto e, nesse dia "que andava com os espíritos" brindou-me com esta canção.
Portugal foi um grande guerreiro
Inda há-de ser outra vez
Eu não quero riqueza espanhola
Quero ser pobre
Mas ser português.
6 comentários:
Ainda tenho algumas recordações da Sr.Rute, algumas boas, outras menos boas mas ao menos via-a sempre com saúde!
Realmente fizeram bem em demolir a casa, seria impossivel ser recuperada e poderia acontecer algum acidente com algum curioso ou criança que lá decidisse espreitar!
O tempo passa e as coisas evoluem e mudam... tenho saudades da ver Lebução como era antigamente, sem alcatrao... claro que agora está muito melhor, mas a nostalgia dá-nos para isto! ahahah
beijinhos
Uma personagem e tanto, a Rute. Lembro-me quando eramos miúdos, nunca passávamos em frente à sua porta sem fazer figas. Que coisas idiotas nos metiam na cabeça. As minhas desculpas, mesmo que póstumas.
A Rute! Lembro-me dela.
Um dia,quando me dirigia de sua casa para o carro, ela deu-me um grande gabanço.
Dizia ela:
- Vê-se mesmo que é inteligente.
Não é que, acto continuo, colo o selo do seu carro ao contrário!
Claro que foi motivo de grande gargalhada. Bons tempos!
Grande abraço
Arminda
Lembro-me dessa figura típica de Lebução, mais pelas peripécias que dela me contavas.
Mas guardo uma imagem da Rute, vassoura de giesta na mão, varre aqui varre acolá, pára e escuta, volta a varrer. E ia cuscando tudo quanto se passava nas casas.
Num prisma diferente.
O titulo que esta mensagem faz passar é:
"A casa da Rute foi demolida"
É isto que me interessa e que um dia a geração vindoura possa admirar o que os seus antepassados fizeram, mas que hoje ninguem aborda.
Peço que me desculpem, respeito as ideias dos outros, mas as aventuras da sra Rute, para mim ficam para segundo plano.
Eu critico negativa ou positivamente seja quem fôr e doa a quem doer. E critico o 1º comentário que pôr acaso até é do meu filho.
Estou de acordo com o 1º e 3º parágrfos, não estou com o 2º na totalidade.
A fachada principal jamais devia ter sido demolida, porque no fundo esta rua é uma rua histórica e que mostra aquilo que aldeia foi.Já chega de neologismos no português, vamos preservar aquilo que os nossos antepassados nos deixaram e que com tanto sacrificio construiram. Esta casa tal como outras, embora pequenina tinha muita história, e acabaram com ela num abrir e fechar de olhos.
Nesta rua e desse lado á excepção salvo o erro de três casas todas as outras devem ser centenárias e esta era uma delas, portanto a fachada principal jamais devia poder ser demolida.
E aqui a junta de freguesia e os serviços da C.M.V. têm a sua cota parte de responsabilidade e ainda estão a tempo de repôr ou fazer repôr o original.
Espero estar a comentar adiantado caso contrário vai ser mais uma aberração na aldeia e nesta rua em particular que pôr acaso até é onde se encontra a sua casa mais emblemática.
Pôr favôr travem hoje os comentários que se poderão fazer daqui 10 ou 15 anos, tal como já aconteceu com o tanque, a capela do Sr dos Aflitos, etc,etc,etc.
O meu filho que me desculpe, mas há pequenas coisas que escapam aos mais jovens, mas tenho acerteza que ele me vai dar razão.
Mais coisas diria que não ficariam mal, mas põr hoje chega.
Um abraço a todos os bloguistas e comentadores.
Sou:E.A.
eh pah, visto por esse prisma, pelo comentario aqui em cima do meu pai, realmente tem razao! eu so alertei ao facto de a casa estar em tao mau estado que poderia acontecer algum acidente desnecessario... mas sim, recuperação primeiro em vez de demoliçao, sem duvida alguma!! nao custava nada deixar apenas a fachada para um dia mais tarde se voltar a construir o interior...
mas como o mal já foi feito, ao menos que façam uma fachada igual ao que era para nao destoar do resto da rua e ficar um sitio na mesma caracteristico e nao apenas mais uma modernice qualquer e sem sentido a destoar ali no meio!
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