Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

domingo, 2 de maio de 2010

Fazes-me Falta Mãe



Fazes-me falta, mãe, fazes-me tanta falta!

Hoje, acordei a pensar em ti, não por ser o dia do teu aniversário, mas porque acordar assim, converteu-se num ritual diário.

Olhei o teu retrato e as memórias começaram a assolar, memórias, das quais não posso nem quero libertar-me.

Na minha vida sempre foste uns braços abertos de ternura, um porto de abrigo onde eu ancorava, cansada ou desiludida. E tu, que sempre foste forte e frágil, lutadora, sensível, uma mistura de força e mansidão, estavas ali, para acalmar o meu desassossego, para enxugar as minhas lágrimas, para me transmitir essa paz que tu respiravas, para compreenderes tantas vezes o incompreensível...

Fazes-me falta, mãe, fazes-me tanta falta!

Recuando no tempo, vejo-me de mão dada contigo, descendo a rua íngreme, cavada na rocha, que nos levava a casa, em Faiões, e as memórias, entrelaçadas na saudade, tomam conta de mim:

A alegria com que tu pisavas essa terra, a tua terra, e à qual estiveste ligada até à hora da partida.

O inquilino da loja, o Tótó Melão, presenteando-me com um "cartucho" de bolachas, que eu começava a comer, sentada à beira do ribeiro, depois de as molhar na água limpinha.

O som da água do ribeiro caindo na represa juntava-se ao grasnar irritante dos patos que, em fila, procuravam as águas para os mais diversos fins.

As visitas que fazíamos, os passeios; a Coitada, a Cruz do Rigueiro, O Caminho da Vila, o Sobredo as Campinas...

-Ó mãe, nós podíamos vir viver para aqui - dizia eu, empolgada, com a atenção que me davas, nessas curtas estadias em Faiões, e que não tinha que repartir, como os teus mimos, pelos meus irmãos. Era o que mais desejavas, tu, mãe, que tanto gostavas da tua terra, mas respondias-me com um  sorriso - não podemos, temos a nossa vida em Lebução.

Fazes-me falta, mãe, fazes-me tanta falta!

Há dias fui aos moínhos a Pedome. As "Pascoelas", como chamavas a essas plantas rasteiras, de flor amarela, que plantaste à porta para enfeitar a entrada, teimosamente, em tua homenagem, vão florindo nas Primaveras. Os lírios campestres, que nasciam no rego de água que atravessa o lameiro, e de que tu tanto gostavas, desapareceram há muito. Quando se aperceberam, talvez, da tua ausência, nas merendas de Verão e nos magustos com os amigos de Pedome.

Fazes-me falta, mãe, fazes-me muita falta.

A nossa casa tornou-se demasiado grande, um imenso mar de recordações e de retratos teus.
Quando o meu neto começou a falar, olhava para a foto do meu quarto e dizia - esta é a avó Glória.
E eu gostava de ser para o meu Diogo aquela avó doce, compreensiva, tolerante e presente que tu foste para o Luís.
No nosso jardim crescem flores, desordenadamente, porque eu quero muitas, muitas flores para ti, mãe, para o pai e para a nossa Fátima.


9 comentários:

Anónimo disse...

Olá Graça:
Que bela homenagem presta aqui à sua mãe. A tia Glória, deixe-me tratá-la assim, que tão bem me recebeu sempre em vossa casa. Como ela era sempre tão doce, tão atenciosa, tão amiga. Fazia-me sentir da família e é assim que eu quero continuar. Um beijinho para ela, onde quer que esteja.
Grande abraço
Arminda

Graça Gomes disse...

A Arminda, o Fernando e os vossos filhos, sempre trataram assim os meus pais. Era assim que eles se sentiam perante vós e, portanto, como gostavam de ser tratados.
Sim, porque vocês fizeram e fazem parte da minha família , daquela muito querida.
É assim que eu vos considero. É assim que vocês me consideram.
Um beijo

Rosa Quinteira disse...

Excelente texto de homenagem à Mãe!
A prof. Graça possui esse dom de pintar as palavras com o coração.Fiquei muito emocionada com a leitura - um quadro real, no tempo e no espaço - envolvido em ternura e saudade.
A sua Mãe deve ter muito orgulho numa filha assim.

Anónimo disse...

A mãe da professora Graça, a D. Glória, era uma senhora boa e caritativa. Que o digam os vizinhos
ou algum pobre que lhe batesse à porta.
Ninguém saía de mãos vazias.
Que Deus a Tenha.

Rui André Martins disse...

Graça
Tambem eu tenho ainda bem viva a imagem da Dª Glória.
Há pessoas que mesmo depois de partirem jamais se esquecem.
Tal como tu tambem eu acho que todos os dias do ano são dias da MÃE.

beijo

Rui André

Graça Gomes disse...

E como a minha mãe gostava de vós!
O Ruizinho e o Pedrinho eram os meninos mais queridos.
E realmente vocês eram mesmo isso. Uns meninos de fazer inveja a muita gente.
Um beijo

Eugénio Borges disse...

É impossível ficar indiferente a tão nobre e emotivo texto. Quem sai aos seus... Um beijo Graça.

Afonso Carneiro disse...

Vivam as mães de todo o mundo:
Padeira, tecedeira e rendeira; uma vida dedicada ao marido e aos filhos,esta é a minha querida mãe,o seu olhar triste e tenue que a velhice lhe trouxe, dá-lhe um encanto singular!!!
A Sua presença enche a minha casa e o meu coração!!!
Como és tudo para mim minha mãe...

Em relação ao texto introdutório, simplesmente brilhante, que a tua mãe (minha amiga) tanto merecia.

Um beijo
Afonso Carneiro

Graça Gomes disse...

Os vossos comentários, comentários de amigos, eu até sei quem é este anónimo, deixaram-me muito emocionada. Eu sei que todos vocês têm recordações, boas recordações da minha mãe.
O Afonso diz:
Vivam as mães de todo o mundo!
E eu vou acrescentar - vivam também os filhos, aqueles que o sabem ser, que proporcionam aos seus pais uma velhice digna, pródiga de afectos, de ternura.
Para esses, nos quais eu, orgulhosamente, me incluo, vai a minha homenagem associada ao dia de todas as mães.
E já agora, Geninho, vivam, também, as avós!