Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Desencantos de Abril





Não fazia o 25 de Abril se soubesse como o país ia ficar»




Otelo Saraiva de Carvalho ouve todos os dias populares dizerem-lhe que o que faz falta é uma nova revolução, mas, 37 anos depois, garante que, se soubesse como o país ia ficar, não teria realizado o 25 de Abril. Apesar de estar associado ao movimento dos «capitães de Abril» e aceitar o papel que a história lhe atribuiu nesta revolução, Otelo não esconde algum desânimo. «Sou um optimista por natureza, mas é muito difícil encarar o futuro com optimismo. O nosso país não tem recursos naturais e a única riqueza que tem é o seu povo», disse, em entrevista à Agência Lusa. Otelo lamenta as «enormes diferenças de carácter salarial» que existem na sociedade portuguesa. «Não posso aceitar essas diferenças. A mim, chocam-me. Os que se levantam às 5h00 para ir trabalhar na fábrica e na lavoura e chegam ao fim do mês com uma miséria de ordenado?», questiona. Para este eterno capitão de Abril, o que mais o desilude são «questões que considerava muito importantes no programa político do Movimento das Forças Armadas (MFA) não terem sido cumpridas». Uma delas era a «criação de um sistema que elevasse rapidamente o nível social, económico e cultural de todo um povo que viveu 48 anos debaixo de uma ditadura».«Este povo, que viveu 48 anos sob uma ditadura militar e fascista, merecia mais do que dois milhões de portugueses a viverem em estado de pobreza», adiantou. Esses milhões, sublinhou, significa que «não foram alcançados os objectivos» do 25 de Abril. Por esta, e outras razões, Otelo Saraiva de Carvalho garante que hoje em dia não faria a revolução, se soubesse que o país iria estar no estado em que está. «Pedia a demissão de oficial do exército, nunca mais punha os pés no quartel, pois não queria assumir esta responsabilidade». «Não teria feito o 25 de Abril se pensasse que íamos cair na situação em que estamos actualmente. Teria pedido a demissão de oficial do Exército e, se calhar, como muitos jovens têm feito actualmente, tinha ido para o estrangeiro», concluiu.



Zeca Afonso

Vampiros

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vem em bandos com pés veludo

Chupar o sangue fresco da manada



Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhes franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada



A toda a parte chegam os vampiros

Poisam nos prédios poisam nas calçadas

Trazem no ventre despojos antigos

Mas nada os prende às vidas acabadas



São os mordomos do universo todo

Senhores à força mandadores sem lei

Enchem as tulhas bebem vinho novo

Dançam a ronda no pinhal do rei



Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada



No chão do medo tombam os vencidos

Ouvem-se os gritos na noite abafada

Jazem nos fossos vítimas dum credo

E não se esgota o sangue da manada



Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhe franqueia as portas à chegada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada

Eles comem tudo eles comem tudo

Eles comem tudo e não deixam nada...


4 comentários:

Clube de História de Valpaços disse...

Os "pontos nos is" com o desencanto também de Otelo e os Vampiros de Zeca Afonso, tão actual como antes.Uma mensagem tão realista como pertinente!Não obstante os "Desencantos de Abril"...,
O resto de um Bom Feriado.
Com os meus cumprimentos,
Leonel Salvado

Graça Gomes disse...

Olá, Leonel!
Um bom feriado, também, e volte sempre.

Anónimo disse...

“Um País de Desavergonhados”

Com o 25 de Abril perdeu-se o respeito.
Não é que fosse essa a intenção de quem derrubou o Estado Novo, nem parágrafo do Programa do MFA.
Mas foi por aquela frincha, por aquele carreiro tão conveniente aos Erifaltes que se disfarçam em todos os Povos, que se escoou um dos principais valores que dá suporte à Dignidade Humana.
Conhecemos alguns que logo nessa data imitaram soberbamente o camaleão.
E como treparam pela árvore do sucesso, na carreira profissional, no estatuto social, e … no património material!
Filhos da cunha, bufos, alcoviteiros, intriguistas e mentirosos, que bem se insinuaram junto dos arregimentadores de filiados nos Partidos Políticos que tão afanosos andavam em catar militantes …e votantes!
Que grande oportunidade para os sapateiros subirem acima da chinela!
E os «cabos – lateiros» passarem à patente de «coronéis»!
E assim a larga meia dúzia de cretinos e covardes que chegou a Santa Apolónia e à Portela soube arranjar uma turba de imbecis suficientemente numerosa para os colocar no topo de uma pirâmide do Poder, e por lá estarem até aos nossos dias.
O cartão de militante do Partido passou a ser um garantido certificado de brilhantismo intelectual, suprema capacidade para ganhar constantes «combates», adequado perfil para tudo e mais qualquer coisa (função ou disfunção!), garantia de fidelidade «aos mais altos interesses da nação» …que, por acaso, coincide com o território dos interesses e desígnios do «querido líder».
Chamou-se ao novo regime Democracia.
Aos bandos armados com todas as manhas atribuíram-se o nome de Partidos Políticos.
Para legitimarem o direito ao assalto às instituições e o saque dos recursos existentes ou ainda futuramente possíveis fingem submeter-se à vontade popular através de encenações eleitorais.
A exemplo de bárbaros triunfantes, antecipam a celebração da vitória apresentando «cabeças de lista».
Claro que o tronco e os membros do corpo eleito estão escondidos no “Cavalo de Tróia” que é a lista do tal «cabeça».
Os votos nulos são mesmo de nenhum efeito - contam somente para a estatística.
Os votos «em branco», não sendo nulos, DEVIAM ter algum efeito. Inexplicavelmente valem tanto como os nulos - só contam para a estatística.
A sua correcta leitura e interpretação seria a sua valorização percentual tal como a dos votos «válidos». O Voto em Branco é tão válido como o validamente expresso - significa que o seu votante não se revê nos Partidos (Programas e candidatos) considerados aptos à eleição.
O «Voto em Branco» não revela indiferença perante o acto eleitoral.
E o «Voto em Branco» deveria ter a sua representatividade no número de assentos vagos no Parlamento.
Mas, provavelmente, o mais acertado seria o Povo pegar em sacholas e forquilhas; em estadulhos, sogas e socos e aquecer o lombo e os fundilhos dos escroques impostores que durante estes últimos trinta e sete anos (37) têm andado a semear mentiras nas searas e nas cortinhas dos que se dizem representar e roubando à descarada o bem-estar, a saúde e a paciência das Gentes que mais respeito e zelo lhe merecem.
É tempo de excomungarmos a profecia daquele Presidente italiano:
- “Às vezes, num dado momento da História, os mais corruptos e imorais de uma Sociedade tomam o poder. Quando essa desgraça ocorre, o Povo afectado cai no risco de ser destruído”.
E, por nós, Portugal continuará independente.
Tupamaro

Graça Gomes disse...

Gostei, Tupamaro.
Volte sempre.