Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Trovoada






Esta tarde a trovoada caiu

Pelas encostas do céu abaixo

Como um pedregulho enorme...

Como alguém que duma janela alta

Sacode uma toalha de mesa,

E as migalhas, por caírem todas juntas,

Fazem algum barulho ao cair,

A chuva chovia do céu

E enegreceu os caminhos ...



Quando os relâmpagos sacudiam o ar

E abanavam o espaço

Como uma grande cabeça que diz que não,

Não sei porquê — eu não tinha medo —

pus-me a rezar a Santa Bárbara

Como se eu fosse a velha tia de alguém...



Ah! é que rezando a Santa Bárbara

Eu sentia-me ainda mais simples

Do que julgo que sou...

Sentia-me familiar e caseiro

E tendo passado a vida

Tranqüilamente, como o muro do quintal;

Tendo idéias e sentimentos por os ter

Como uma flor tem perfume e cor...



Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa Bárbara..

Ah, poder crer em Santa Bárbara!



(Quem crê que há Santa Bárbara,

Julgará que ela é gente e visível

Ou que julgará dela?)



(Que artifício! Que sabem

As flores, as árvores, os rebanhos,

De Santa Bárbara?...Um ramo de árvore,

Se pensasse, nunca podia

Construir santos nem anjos...

Poderia julgar que o sol

É Deus, e que a trovoada

É uma quantidade de gente

Zangada por cima de nós ...

Ali, como os mais simples dos homens

São doentes e confusos e estúpidos

Ao pé da clara simplicidade

E saúde em existir

Das árvores e das plantas!)



E eu, pensando em tudo isto,

Fiquei outra vez menos feliz...

Fiquei sombrio e adoecido e soturno

Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça

E nem sequer de noite chega.







4 comentários:

Maria Teixeira disse...

Santa Bárbara bendita
Que no céu está descrita
C'um raminho d'água benta
Livrai-nos desta tormenta.

Maria Teixeira disse...

Santa Bárbara bendita
Que no céu está escrita
Com raminho de agua benta
Livrai-nos desta tormenta

Maria Saudade disse...

Santa Bárbara bendita
Se vestiu e se calçou,
Ao caminho se deitou,
Jesus Cristo encontrou
E Ele lhe perguntou:
-Onde vais Bárbara?
-Vou amarrar a trovoada,
Que no Céu anda espalhada.
-Bota-a p´ra bem longe,
Onde não haja sinos a tocar,
Galos a cantar,
E meninos a chorar.
Nem raminhos de oliveira
Nem pão, nem vinho,
Nem flor de rosmaninho,
Nem mulheres com meninos
Nem vacas com bezerrinhos,
Nem gadinhos de lã,
Nem bafinho de alma cristã.
Mas haja uma serpente,
com 24 filhos a olhar sem ter nada que lhes dar,
Só água de trovão,
E leite de maldição.

Maria de Lebução disse...

Há várias versões da lenda de Santa Bárbara, a mais difundida das quais a considera nascida no século III em Nicomédia (atual Ismite), cidade da antiga Bitínia, na Ásia Menor, junto ao Mar de Mármara.

Segundo esta versão, Bárbara era uma jovem invulgarmente bela, filha de Dióscoro, homem rico e poderoso, adorador dos deuses grego-romanos. Este, desejando destinar sua filha a um bom casamento, que também constituísse para ele uma vantajosa aliança, e por ter de partir em viagem, encerrou-a numa torre, mandando construir ali um balneário com duas janelas.

No seu isolamento, Bárbara terá entrado em profunda meditação, acabando por se converter à fé cristã, então seriamente proibida no país e já motivadora de perseguições. Na ausência do seu pai, Bárbara mandou abrir no seu balneário uma terceira janela para que assim, segundo ela, recebesse uma luz que representasse a Santíssima Trindade. Também iluminada pela Santíssima Trindade teria desenhado uma cruz com o dedo, no mármore da balneário, que ali ficou profundamente gravada e que, conforme vários relatos, teve efeitos milagrosos para os que, mais tarde, a tocaram. Além disso mandou destruir os ídolos pagãos que seu pai ali tinha.

Quando Dióscoro regressou da viagem, interrogou a filha, que explicou o que tinha feito e informou seu pai que recusava qualquer casamento, pois já se tinha destinado a Jesus Cristo. Aquele, furioso, desembainhou a espada para a castigar, o que fez com que Bárbara fugisse - suas preces criaram uma abertura na muralha - e se ocultasse no interior de um rochedo que, segundo a lenda, abriu-se para escondê-la.

Numa versão da Idade Média, que situa a história lendária de Bárbara perto de Atenas, a jovem teria sido protegida por mineiros de Láurio que a esconderam na sua mina.

Denunciada por um pastor, Bárbara teria sido entregue ao pai, que a levou a Marciano, máxima autoridade romana da cidade, acusando-a de professar o Cristianismo. Diz a lenda que, como punição, o pastor foi transformado em estátua de mármore e seu rebanho em gafanhotos.

Marciano quis perdoá-la, se Bárbara aceitasse os deuses de Roma, mas a jovem terminantemente recusou. Por várias vezes açoitada cruelmente, Bárbara teria pedido sempre o auxílio a Deus, tendo Jesus aparecido assegurando-lhe que estaria sempre a seu lado, de modo que as crueldades dos tiranos nada pudessem contra ela. Nesse momento, Bárbara teria sido curada e teria agradecido a Jesus, assegurando-lhe que o seguiria para sempre.

Não conseguindo demovê-la da sua fé, Marciano, furioso, a teria mandado decapitar. Dióscoro, seu pai, teria solicitado ser ele mesmo o executor. Bárbara teria sido levada ao alto de um monte onde se ajoelhou e pediu a Jesus que, na hora da sua iminente morte, a absolvesse de todos os seus pecados. Levada pela sua bondade, teria pedido também que a mesma graça fosse concedida a todos os que, em situações de morte iminente, implorassem a extrema unção por seu intermédio.

Depois de receber a garantia da satisfação destes pedidos, Bárbara teria sido decapitada pelo pai, em um dia 4 de dezembro. Continua a lenda que o céu escureceu, tornou-se tempestuoso e que, quando Dióscoro regresssava do monte, um raio o fulminou e reduziu a cinzas. E assim, enquanto Bárbara terá subido ao Céu levada por anjos, Dióscoro terá descido ao Inferno para ser atormentado para sempre pelos demônios