A chuva, ou a ausência dela, foi, desde sempre, a principal preocupação dos lavradores, aqueles homens que, com trabalho e suor, vão rasgando a terra, para a verem desabrochar nos frutos da sua esperança.
Longe vão os tempos em que se faziam "Ladaínhas", procissões de penitência, para abençoar os campos, torná-los produtivos, livres de qualquer praga.
No Brasil, segundo a canção de Chico Buarque, recorre-se a uma prática muito antiga, enraízada no povo, que consiste em mudar os Santos de lugar, que é como quem diz, de Igreja, para concederem as preces que lhes são imploradas pelos fiéis. Até lá Eles, Santos, permanecerão fora dos Seus altares:
A Permuta Dos Santos
(Chico Buarque /Edu Lobo
São José de porcelana vai morar
Na matriz da Imaculada Conceição
O bom José desalojado
Pode agora despertar
E acudir os seus fiéis sem terra, sem trabalho e pão
Vai a Virgem de alabastro Conceição
Na carroça para a igreja do Bonfim
A Conceição incomodada
De escutar nossa oração
Nos livrar da seca, da enxurrada e da estação ruim
Bom Jesus de luz néon sai do Bonfim
Pra capela de São Carlos Borromeu
O bom Jesus contrariado
Deve se lembrar enfim
De mandar o tempo de fartura que nos prometeu
Borromeu pedra-sabão vai pro altar
Pertencente à estrela-mãe de Nazaré
A Nazaré vai de mudança
Pro mosteiro de São João
E o Evangelista pra basílica de São José
Mas se a vida mesmo assim não melhorar
Os beatos vão largar a boa-fé
E as paróquias com seus santos
Tudo fora de lugar
Santo que quiser voltar pra casa
Só se for a pé.
2 comentários:
Cara Profª Graça,
interessantes mudanças!
abs
Gostas deste? beijos...
(Outono.
(A palavra é cansada...)
Tudo a cair de sono,
Como se a vida fosse assim, parada!
Nem o verde inquieto duma folha!
O próprio sol, sem força e sem altura,
Olha
Dum céu sem luz e levedura.
Fria,
A cor sem nome duma vinha morta
Vem carregada de melancolia
Bater me à porta.)
Miguel Torga
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