Nesta azáfama, o presépio é talvez o sinal menos importante do Natal, nos tempos de hoje. O Natal da minha infância recorda-me a importância e o valor simbólico do presépio. Dezembro era tempo de desembrulhar as imagens em barro do Menino, das ovelhinhas, dos Reis Magos. Era o tempo de correr pelos montes e lameiros à procura do musgo que cercava o estábulo onde o Deus Menino nasceu.
Hoje essa fantasia e esse mistério deram lugar aos presépios da vida real, escondidos entre a azáfama das compras, do consumo e do supérfluo. Recordo uma cena passada numa noite de Natal há poucos anos. Num café da cidade do Porto, talvez o único aberto nesse dia, assisti à recriação do Presépio no verdadeiro sentido cristão. De Repente ouvia-se os gemidos de mulher de uma das casas de banho. Constrangidos o proprietário e os clientes procuraram saber o que se passava dentro daquela exígua casa de banho. De repente a porta abriu-se e eis que surge um cenário absolutamente inesperado. Estava ali um presépio real. Aquela jovem mãe tinha dado à luz uma criança. A história veio depois. Aquele menino era filho de um pai desconhecido e de uma das muitas mulheres sem-abrigo que pululam nas nossas cidades. Estou certo que aquele Menino tem muitas semelhanças com O que nasceu em Belém dois mil anos antes.
Todos os dias se erguem estes presépios no meio das nossas vidas, das nossas ruas, do nosso mundo.
(Fonte: Vítor Hugo Jornalista da RTP)
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