Manhã cedo, ainda o sol não tinha acordado, entrei no Casal, percorri a Agueira e, quando dei por mim, estava no Vale de Couce.
É aqui que eu me sento, depois da caminhada, para me apaziguar comigo e com o mundo.
Olho em volta. Estamos eu e o meu pai com todas as memórias de todos os dias. E as velhas lembranças reúnem-se, agora, que estamos no Vale de Couce, como rosas de fogo, e, pensando, vão fugindo da luz do dia.
Levanto-me, aspiro o cheiro da terra, e entro de novo nos caminhos do Verão, sulcados de giestas, silvas e heras. Estamos na Agueira com os seus lameiros e linhares hortas e jardins, onde homens e mulheres gastam os dias. Pedaço de terra abençoado, mimoso e produtivo pela graça de Deus e pelos braços de quem o trabalha, com amor e carinho. É o paraíso do milho e das batatas, das abóboras, do feijão e de todos os frutos. Jardim de flores que convive, harmoniosamente, com os legumes e toda a espécie de hortaliças. Robustos muros, de pedras irregulares, hoje ornamentados com a mais variada vegetação, demarcam os terrenos e fazem margem nos caminhos. Portelos, rasgados na pedra, são a porta de entrada dos terrenos onde, por vezes, foram construídas artísticas cancelas ou, simplesmente, implantados ramos secos, fintando, assim, os intrusos. Nessas cancelas, nas portas dos palheiros, nos lugares mais improváveis, podemos encontrar o celebérrimo fio azul, o fio do desenrasca, como alguém o alcunhou.
Na Poça do Povo nasce a água que invade a Agueira e, agora, domesticada, em canal de irrigação, mata a sede por onde passa, depois de ser partilhada, alternadamente, por todos os utilizadores.
E há amoras, muitas amoras, maduras, coloridas, saborosas, em todos os caminhos, em todas as paredes invadidas pelas silvas, que deliciam quem as saboreia, depois de entrar no Casal e caminhar até ao Vale de Couce, por caminhos estreitos.



2 comentários:
Cara Profª Graça,
como é bom deambular pelos nossos caminhos...
Belas imagens!
abs
Des – GOSTO”
Alto lá!
Assim não vale!
Já com o hábito apaladado a este blogue, mal lemos o título do Post(al) e vimos o retrato das espigas de milho-rei, “adivinhámos” uma partitura de prosa escrita em compasso trasmontano, e onde os fonemas se combinam em colcheias rendilhadas, sustenidos que fazem estremecer a alma e bemóis que adormecem a saudade.
Chegado ao último parágrafo, acreditámos que a foto seria uma alegoria ao mudar de rego à água que, vinda da poça, se conduz com o sacho de rega para este rego de couves, aquele de pimentos e aqueloutro das cabaças, lá, na horta, no quintal, na cortinha ou no linhar.
Mas sucederam-lhe outros retratos, a avivar-nos a memória de caminhos e carreiros, muros e cancelas, flores e frutos selvagens que são quadro de beleza e encanto em qualquer rincão Transmontano.
O último retrato, o dos jerimuns, até nos fez ir ao calendário para vermos se o Natal já estava assim tão perto! …..Não, que umas filhoses de jerimum!..... (Há que tempos não lhe tocamos com o dente!).
E o texto não continuou!
Ficámos desconsolado!
Menina, não acha que já bastava a «maldade» dos retratos para nos deixar pendurado em fios de imaginação que nos levam daqui até esse principado da NOSSA NORMANDIA TAMEGANA?!
Bem, bem. Pelo “des-gosto” que nos causou vamos dar-lhe um cibinho, só um cibinho!, de perdão porque …. não falou, nem pôs retratos, de uma fiada de pimentos, nem uma meda de centeio!
Não cremos que haja Povo mais romântico do que o Normando-Transmontano!
M.,6 de Setembro de 2012
Luís Fernandes
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