Agora, quando as ALDEIAS estão vazias de crianças e de jovens, e cheias de tristezas e de ruínas; quando nelas vai mingando o número de resistentes - idosos e doentes, quando as Casas estão certificadas pelo seu padrão térmico e alfabeto de poupança de energia; quando o número numa porta, de casa, de adega, de corte ou de cortinha, passou a ser mais importante do que o nome das pessoas que a habitam ou a quem pertencem é que os presidentes, tesoureiros e secretários e comissários dos partidos políticos, ministros, secretários de estado, deputados, vereadores, e provedores de eleitores (minúscula intencional), de contribuintes, de cidadãos põem os caminhos e as ruelas das ALDEIAS pintados com alcatrão, decoradas com tampas do Saneamento, de Águas pluviais; da EDP, da Cabovisão, do Gás, dos Telefones; sinalizadas com placas de vários formatos e com nomes ao gosto do capricho politiqueiro; ocupadas por Paragens de Autocarros, sinais de trânsito e painéis publicitários ou de propaganda politiqueira;ocupam os baldios com reservas de caça; concedem reserva de pesca a regatos onde a truta, a boga, o escalo e a lontra são condenados à extinção; e consentem os outeiros debastados do seu mato e arvoredo para dar lugar a modernos moinhos de vento - quem nem farinha nem farelo produzem, e que apenas servem para soprar ventos financeiros favoráveis aos seus «agapitos».
E deixam que Capelas, nichos e alminhas; cruzeiros e pelourinhos; fontes, “cegonhas”; castros e dólmens, moinhos, açudes e pontes definhem com a idade e as intempéries … e o seu mau-olhado!
Abatem-se ALDEIAS, na Província, para se «plantarem» Bairros Sociais, na metrópole!
A liberdade e a independência do ALDEÂO não convêm aos desígnios dos tiranos.
A fidelidade e a subserviência passam pelo certificado do favor político de um «caixote» ou de um «tacho».
Acabaram com os guarda-rios, os rondistas da floresta, os cantoneiros, os varredores de ruas, os contínuos, os porteiros, os guardas-nocturnos - os rios e ribeiros são canais de esgoto; as florestas, montes de cinza; as valetas, montes de lixo e silvedo; as ruas, latrinas a céu aberto; os recreios, ringues de pugilato e cacetada; as entradas, sem serventia; as noites, horas de assaltos e roubos!
A caminho, estão a acabar com Escolas e Professores - estão a fazer destes mais escriturários de estatísticas e a acomodá-los à ideologia vigente.
Acaba-se com a Educação e o Ensino. “Aprofunda-se” a instrução …. mas uma “CERTA” instrução!....
Aos modernos politicastras e neo-estafadores, o respeito, a honradez, a dignidade, a competência, só são medidos pelo grau de satisfação dos seus mesquinhos interesses.
Para os «neo-cons» e salafrários que conseguiram deitar a mão às rédeas do poder, as ALDEIAS, altares onde se celebram, de alma e coração, as virtudes; onde se bendiz o céu e a terra; onde o amor, a justiça e a verdade são doutrina, representam o perigo que lhes pode tirar a terra debaixo dos pés.
Nas ALDEIAS Portuguesas ainda se podem buscar e encontrar práticas e modelos de um ideal cívico, e «riscos e sombras que ficaram de cortesãos antigos e tradições suas», aos quais podemos amparar-nos «para protecção da Língua e da Nação Portuguesa»!
Neste «Inverno do nosso descontentamento» são ainda as nossas ALDEIAS, «feitas Corte com homens e mulheres de tanto preço», o lugar de eleição onde o passar dos anos nos faz desejar nelas passar os que nos «ficam de vida»!
Nas ALDEIAS, o Eu e o Outro são o verdadeiro NÓS!
Nas ALDEIAS, o Sujeito tem sempre Predicados!
M., 17 de Fevereiro de 2014
Luís Henrique Fernandes
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