Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Cândido Sotto Mayor um ilustre filho desta terra



Foi Cândido Narciso da Cunha Sotto Mayor um dos transmontanos muito bem sucedidos no mundo dos negócios dos finais do século XIX e inícios da centúria seguinte. Um homem cuja nobreza de sentimentos e apego moral às suas raízes, valeram-lhe ser hoje recordado na sua província, concelho e terra natais com grande e legítima deferência e admiração. Como se extrai de várias publicações dedicadas à sua biografia, designadamente do I volume do “Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses”, obra colectiva coordenada por Barroso da Fonte, Cândido de Sotto Maior nasceu em Lebução no dia 26 de Outubro de 1852. Convém lembrar que, por esta altura, Lebução devia ser uma localidade de destacado dinamismo político-administrativo e sócio-económico, o que se pode depreender do facto de ter sido para aí transferida a sede do concelho de Monforte do Rio Livre, vila pobre e despovoada, logo após a reforma administrativa de Passos Manuel, em 1836, mantendo embora a designação original do concelho, até ser integrada no concelho de Valpaços pelo Decreto de 31 de Dezembro de 1853 que extinguia este concelho e comarca, bem como os de Carrazedo de Montenegro.


Casa onde nasceu Cândido Sotto Mayor, Lebução | Foto de Graça Gomes
| lebucaodevalpacos.blogspot.com


Através de outras fontes, foi-nos possível apurar que Cândido Sotto Mayor era filho de Cândido Augusto Moranda e de sua esposa Cândida Sotto Mayor, nascida ao redor de 1820. Alguns genealogistas dão-no com filho de pai incógnito. Em todo o caso era, seguramente, do lado materno, um elemento da família Sotto Mayor de que existem evidências de poder tratar-se de uma família dotada de grande espírito empreendedor nessa época de prosperidade de Lebução. Pode abonar em favor desta interpretação o facto de Cândido ter sido, como se sabe, sobrinho de Joaquim Felisberto da Cunha Sotto Mayor, filho de José Lino da Cunha Sotto Mayor, natural da vila de Chaves, e de Ana Lúcia Garcêz Palha, natural de Lisboa (portanto, avós maternos de Cândido) e nascido também na freguesia de S. Nicolau de Lebução, a 11 de Março de 1845, que fez fortuna no Brasil na actividade comercial e se radicou depois na Figueira da Foz, deixando aí fama de homem de grandes obras materiais e de elevadas virtudes morais e humanas dados aos vários actos de benemerência a que se dedicou na vila e arredores. Dele ficou o célebre Palácio Sotto Mayor naquela cidade. Contudo, ao contrário do sobrinho, e apesar de se lhe reconhecerem virtudes morais e um percurso de vida muito semelhante ao deste, não encontrámos provas de que Joaquim Sotto Mayor tenha sentido o mesmo apego pessoal à sua terra natal até ao fim dos seus dias.


De Chaves ao Brasil
Cândido Sotto Mayor começou a trabalhar aos 13 anos como empregado de balcão em Chaves na Casa Comercial de Luís Paulino Teixeira. Aos dezoito anos partiu para o Brasil, ingressando, no Rio de Janeiro, como funcionário da Casa comercial Sotto Mayor & Companhia, cotada como uma das mais importantes do Rio De Janeiro no comércio por atacado e fundada pelos tios, um dos quais já atrás referimos, Lino e Joaquim Sotto Mayor. Mais tarde foi admitido sócio, acompanhando por certo a expansão da empresa, ainda no Brasil, e talvez, aí, tenha seguido o exemplo de seu tio Joaquim de quem se diz que manteve interesses noutras firmas do Rio de Janeiro e de S. Paulo, tais como aCosta, Pacheco & Companhia e e a Araújo Costa &Companhia, e que foi accionista de algumas indústrias de Fiação e de várias casas bancárias. Foi nesta área do comércio bancário que Cândido Sotto Mayor prosperou.


O Banco Pinto & Sotto Maior
Pelo que se pode ler nas várias biografias ele terá regressado a Portugal e em Lisboa fundado uma casa bancária com a designação de Casa Bancária Sotto Mayor cujo sucesso terá proporcionado a abertura de filiais em algumas cidades do país, nomeadamente em Chaves, uma das suas maiores construções no Largo do Arrabalde, tal como é referido por Barroso da Fonte, na obra já indicada (p. 587) e reafirmado, por Graça Gomes no seu blogue “Lebução de Valpaços”, casa comercial bancária essa que estaria na origem do futuro “Banco Pinto &Sotto Mayor. O facto parece corroborar-se pelo que é referido na História do Banco Pinto & Sotto Mayor nos seguintes termos:


Os primórdios do Banco Pinto & Sotto Mayor (BPSM), que chegou a ser considerada uma das maiores instituições financeiras portuguesas, remontam à constituição prévia da Casa Bancária que dava pelo mesmo nome. Esta entidade, cujo funcionamento decorreu entre 1914 e 1926, assumiu-se na verdade como uma oportunidade de verificar as necessidades do mercado e a sua receptividade perante novas empresas do sector.
A estratégia supra-descrita, adoptada pelos fundadores da Casa Bancária Pinto &Sotto Mayor, António Vieira Pinto e Cândido Sotto Mayor, conduziu ao sucesso da empresa e ao reforço da sua posição no panorama nacional.


A expansão desta empresa com a abertura de filiais nas principais cidades do país surge atestada no trabalho realizado por José Amado Mendes "A Empresa Bancária em Portugal no século XX: Evolução e Estratégias", onde o autor alude a uma filial do Banco Pinto & Sotto Mayor instalada em Coimbra em 1919, portanto ainda dentro do período da sua fase experimental, considerada na fonte anterior.

Contudo, ainda a respeito da relação estabelecida pelo banqueiro de naturalidade lebuçanense com a primeira Casa comercial Bancária que ostentou o seu nome na capital portuguesa, será preciso ponderar da credibilidade de algumas declarações que encontrámos no Fórum do Geneall.Net, datadas de 7 de Julho de 2006 em que António Pedro de Sottomayor, em resposta a João de Morais Barreira, a respeito da “família Sotto Mayor de Chaves” e sem prejuízo de tudo o que dissemos e se diz sobre a origem de Cândido Sotto Maior e da sua vida no Brasil, refere que foi aqui que ele se tornou banqueiro e criou o primeiro Banco Sotto Mayor, acrescentando que quando regressara a Portugal no início do século XX o seu filho, Cândido Sotto Mayor Júnior já se havia associado, com o seu apoio, a António Vieira Pinto e fundado o Banco Pinto & Sotto Mayor. Estamos, afinal, perante dois homónimos, pai e filho, a um dos quais coube a responsabilidade material de criar a Casa bancária que mais tarde chegou a ser considerada uma das maiores instituições financeiras portuguesas.

O banqueiro edificador e benemérito
Regressando a Portugal, cremos que na primeira década do século XX, fixou-se em Lisboa para poder gerir melhor os seus interesses bancários e outros negócios, escolhendo para residir o lugar das Avenidas Novas, onde já existia um solar oitocentista da família Mayor. Assim, no ano de 1900, mandou que fosse demolido o solar para construir no seu lugar um imponente palácio ao estilo arquitectónico mais ambicioso da época. Durante os dois anos que se seguiram foi a demolição efectuada e iniciadas as obras de muralha de suporte sobre o Largo do Andaluz. Em 1902 iniciou-se a construção do palácio Sotto Mayor, uma obra grandiosa que foi realizada em quatro anos e que envolveu uma média de duzentos operários.


Construído a partir do esboço inicial do Arquitecto Ezequiel Bandeira com a colaboração do Arquitecto Carlos Alberto Correia Monção e do projecto assinado pelo Capitão de Engenharia do Exército, António Rodrigues Nogueira, o palácio Sotto Mayor de Lisboa é uma obra de “estilo compósito”, de inspiração francesa que compreende duas fachadas de entrada, com a janela composta de cariátides do escultor Jorge Neto, uma fachada de lazer com torre adossada e uma outra, posterior, de serviço. No remate do seu interior quadrangular organizado à volta de um hall central domina uma grandiosa clarabóia. O conjunto arquitectónico compreendia ainda uma série de anexos com cocheiras, casa de criados, lavadouro e um belo jardim “biscoito” constituído por um lago e uma estufa de vidro e gaiolas. Este impressionante monumento da arquitectura civil do início do século XX foi, em 1988, classificado pelo IPPAR como imóvel de interesse público e, apesar dos projectos propostos para a sua renovação desde esse data e aprovados pelo mesmo IPPAR e pela Autarquia em 1993, o Palácio Sotto Mayor pode hoje ser observado em toda a sua singularidade arquitectónica original, pois em consequência desses projectos, apenas sofreu um ligeiro restyling.

Mas tanto a prosperidade pessoal como a sumptuosidade e o requintado conforto que esta bela residência decerto proporcionaria, não parece que tenham deslumbrado Cândido Sotto Mayor, cuja personalidade pública, sumariamente definida na obra já citada de Barroso da Fonte (p. 587) o aponta como um Homem que “sempre fugiu à publicidade e elogios”, ao ponto de se acomodar, na sua meia-idade, ao “status” adquirido após uma vida de indizíveis trabalhos e sacrifícios. À sua faceta de homem de elevadas qualidades morais e humanas e ao natural espírito de benemérito revelados na capital, juntou-se o apego e orgulho pelas suas origens. Coube-lhe a honra e a dignidade de ter ordenado a construção da "Vila Cândida", um bairro para operários pobres em Lisboa, atribuindo-lhe o nome de sua filha Cândida ou, segundo outros autores (que sustentam não ter havido dele filha alguma) do seu próprio nome e de seu filho Cândido, mas também se sabe que, sempre que podia, se deslocava a Chaves, cidade que tinha em grande estima e de cujas termas consta que chegou a ser proprietário. A esta cidade, além do imponente edifício por ele mandado erguer para funcionar como agência da instituição bancária com o seu nome, a que atrás nos aludimos, fez algumas doações com vista ao seu melhoramento urbanístico, tais como os coretos que nela mandou instalar e a doação de um amplo espaço junto à actual Avenida D. João I destinado à construção do Jardim Público, que em 1915 passou a chamar-se Jardim Cândido Sotto Mayor, onde hoje se contempla um busto que aí foi instalado em sua homenagem pela Autarquia.

Outras curiosas informações, estas relativas às provas de afecto que Cândido Sotto Mayor e sua família mostraram pela comunidade onde se encontram as suas raízes, são as que descobrimos no já referido blogue de Graça Gomes de que passamos a transcrever um pequeno excerto:

Consta-se que a escritura de doação do Jardim Público teria uma nota que isentava os naturais de Lebução de qualquer pagamento para entrar nesse espaço.
Em Lebução, a família Sotto Mayor, está ligada à construção da antiga escola primária, com a doação de uma renda perpétua para ajudar alunos pobres, e a um altar (erigido em honra de Nossa Senhora de Fátima) na Igreja Paroquial.
Fonte: Blogue Clube de História de Valpaços
 http://clubehistoriaesvalp.blogspot.pt/


























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