Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Quem não tem pão escusa de cão




Altivo, irreverente, indisciplinado, o meu galo, o Zé, passeava-se, crista empinada, pelo quintal, como se fosse dono do pedaço. Seguiam-no a Catarina, a sua companheira, e os três filhotes, três bolinhas lindas e fofas, cada um de sua cor. Apesar de se ouvir, à boca pequena, que os pintaínhos não eram filhos do Zé, ele tratava-os com tal desvelo, com tal dedicação, como se a sombra da suspeita não pairasse sobre a sua paternidade. E viviam felizes, os cinco, como uma família, organizada. 
O Zé, o mais madrugador, acordava a vizinhança com os seus acordes matinais. Custou-lhe um pouco a entrar no tom, mas, com os treinos diários, conseguiu. Dali a pouco, os galos da vizinhança respondiam ao clarim da alvorada, e era uma sinfonia, um canto à desgarrada, que fazia com que a passarada voasse mais alto.

A Catarina, sempre escoltada pelo companheiro, percorria o quintal, seguida dos filhotes e esgravata aqui, esgravata ali, ia fazendo pela vida e alimentando a prole.
Até que um dia, a felicidade dura pouco, sem saber como, a Catarina e os filhotes desapareceram. Em Pânico, acudindo ao chamamento, inquieto do Zé, percorri o quintal onde encontrei vestígios dos meus companheiros, do dia a dia.

Foram abocanhados por um cão, possivelmente o mesmo que, antes, tinha comido um gato, sim, não se admirem, um gatito pequeno e enfezado, que sucumbiu aos dentes de um cão faminto, propriedade de um bombeiro, que não alimenta os animais. Belo exemplo!
Ficou o Zé, triste e assustado. Não entrava no galinheiro nem à força. Dormia num arbusto, alto, possivelmente para se defender dos ataques.

Há dois dias, para quebrar a solidão do Zé, arranjei uma galinha e uma filhota, já crescida e, então.o galo ocupou, novamente o galinheiro. Foi sol de pouca dura.
Ontem foram os três engolidos por um cão, que eu ainda vi e identifico, em pleno dia, deixando vestígios da luta. desigual, pelo meu quintal.
E eu triste, com os contornos desta tragédia que envolveu animais, animais irracionais, tento desculpar os cães, porque a fome é negra.

E como dizia muitas vezes a minha mãe _  Quem não tem pão escusa de cão.




























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