Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

terça-feira, 19 de abril de 2016

A casa já teve sardinheiras na varanda e vasos de malmequeres


        Para a Nanda e Beta, principalmente, minhas amigas de sempre e para sempre

A casa, uma das melhores da terra, já teve sardinheiras na varanda e vasos de malmequeres. As janelas, hoje sem vidros, já foram ornamentadas com cortinas brancas, de folhos pregueados, da mesma cor.
Conheceu o bulício dos grandes dias, num abre e fecha a porta, num entra e sai, que só acabava quando as luzes do céu se apagavam.
Já ouviu, vezes sem conta, o bater das horas na torre da igreja e outros toques chamando o povo a orar.
Assistiu, também, às festas e procissões, e ao pôr-do-sol, lá longe, no Alto de Fiães, quando os trabalhadores regressavam a casa, com mais um dia cumprido.
Viu as mulheres carregar os cântaros de água, na cabeça, e outras a lavar os panos no tanque grande do seu quintal, ou no das Coralinhas, vizinhas e amigas.
Festejou muitos natais, com a família à volta da mesa e dos abraços, e a porta da casa abriu-se, outras tantas, para entrar o Compasso nas Páscoas de todos os anos, de todas as Primaveras, de todas as flores...
Viu passar procissões, quando o Outono estava à porta, e a Senhora dos Remédios saía à rua para abençoar a gente e a terra.
As pedras desta casa, em ruína, contam-nos histórias, todas elas à volta da generosidade, da imensa generosidade da sua proprietária, a Dona Marquinhas Morgada.
Foi abanada pelos temporais de Inverno e o sol abrasador do Verão tirou-lhe a cor.
Hoje, a porta e a casa, são uma imagem desfocada, descolorida e decadente de outrora, à espera de uma morte anunciada.
Mais dia, menos dia os sinos vão tocar e, quando alguém perguntar "por quem os sinos dobram" ouvir-se-á uma voz, uma trémula e melancólica voz:
- Eles dobram pela casa, grande, que já teve sardinheiras na varanda e vasos de malmequeres...







































1 comentário:

PEREYRA disse...

Que belo texto laudatório à Casa Grande em ruínas!