Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

domingo, 19 de dezembro de 2010

É a vez do porco


A matança tradicional do porco é, ainda, um ritual que várias famílias desta aldeia tentam preservar e perpetuar como herança dos antepassados e que querem legar aos vindouros. Embora sem a importância que teve outrora, continua a realizar-se, em Lebução, e em quase todas as aldeias do Concelho de Valpaços, nos meses de Dezembro e Janeiro quando o frio cria condições propícias para tal.

No dia da matança a família reúne-se pela manhã e dá-se início a um dos dias mais animados das comunidades rurais. O porco, que há-de alimentar uma família inteira durante os próximos meses, é seguro e morto pelos homens enquanto as mulheres separam e lavam as tripas. À tarde, alguma carne, sobretudo a gordura, é retirada ao porco e daí se preparam os saborosos rojões e um tipo de refogado com sangue, anteriormente cozido.

Mas a faina que antecede a matança começa alguns dias antes, com a dona da casa a preparar os utensílios necessárias para tal função. Apronta-se o banco de madeira, a grande colher de madeira, para mexer o sangue do animal antes que "tralhe", o tabuleiro onde se apartam as tripas, a balança, os alguidares, as "funilas", as facas, os fios para atar o fumeiro e tudo o mais que é preciso.

E o porco, retalhado, salgado ou transformado, vai ser o sustento da família durante muitos dias no ano. Destacamos os saborosos presuntos e pás, as orelhas, os pés e o focinho. Vai dar origem a alheiras linguiças e salpicões, sangueiras azedos e laronas.

Como dizia o saudoso Padre Daniel, Pároco desta freguesia mais de cinquenta anos, "no porco é tudo bom, desde a ponta do rabo até ao focinho."
Na minha casa a matança do porco andava associada a pessoas que sempre fizeram essa função, com a sábia orientação da minha mãe: srª Martina, Hermininha, Laura de Pedome, que ajudavam na matança e na folia.

Hoje, restam as saudades das pessoas e dos sabores, em suma … saudades desses tempos de solidariedade, partilha, entreajuda e, sobretudo, alegria.









3 comentários:

Armando Sena disse...

Saudades dos tempos que vamos tentando manter. Não as saudades mas as tradições. E haja matança porque dela se faz tradição e da tradição se faz a história.

José Doutel Coroado disse...

Cara Profª Graça,
saboroso post.
abs

Anónimo disse...

A prof. Graça também matou porco?
Não a vejo muito vocacionada para essas tarefas de dona de casa.
Mas, deslumbre-me com os seus talentos, e diga-me que sim.
E eu continuarei a divulgar tudo quanto sai das suas mãos...