Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Em Junho foice em punho



“””AS SEGADAS”””


Madruga-se. Cedo, cedinho. O Sol espreita pela frincha do Brunheiro e a Serra de Mairos. O “rancho” dos Segadores, bicho matado, já está alinhado frente à seara. Seitouras afi(n)adas, o catapaz (capataz) olha pelo rabo do olho para o Tocador de Concertina e dá sinal para a «abertura do concerto». Pelos montes e «abertas» soam as bem afinadas vozes dos Ceifeiros e os bem ritmados acordes do Tocador cantando à Seitoura:
“Sega, sega, seitourinha,
Por esta palhinha rala,
Quanto mais devagar ando,
Quanto mais se m’enrazalha”!


Montículos de palha começam a ficar espalhados atrás dos Segadores. É hora da entrada dos Atadores.
Com hábeis mãos colhem uma dúzia de palhas, prestidigitam um vencelho, e as Gabelasvão-se alinhando pelo chão ceifado.
Os Segadores têm por brio cumprirem a tarefa em «formação ordenada» (em linha). Ai do que fica para trás ou esquece uma palha de centeio por segar! Uma chuva de piadas, maior do que uma chuva de estrelas no céu transmontano de Agosto, desaba sobre o «fraquitote».
Pelas 10 da manhã, criando um preceito que a classe operária adoptaria mais tarde, é servido um ALMOÇO -caldo de chícharros (hum! Quem é, quem é, o maior gulosinho do mundo por este caldinho?!), batatas com bacalhau, pão e vinho, tudo à farta!
Mas não há descanso. E, até ao JANTAR, Segadores e Atadores viram costas ao sol escaldante e seguem em frente à conquista da Seara.
À uma (1h) nova - “mei-dia” velho - o «ratito» dá sinal, é hora de JANTAR. Um caldo de feijão, carne de reco com batatas, um arrozito de coelho (hum! Minhã, minhã!), pão e vinho, tudo à fartura!

Uma sesta curta - e regresso à Segada.
Costas dobradas. O Sol queima. O suor escorre. Palha e espigas saltam para o peito e para o pescoço. Picam. Fazem uma comichão danada.
Mas a Seara tem de ser vencida.
A meio da tarde, uma pausa para a Merenda. Que bem sabe o Caldo de Vagens! (Quem é, quem é, o maior gulosinho do mundo por este caldinho?!) - uma boa «entrada» para o «cabrito» ou o «cordeiro» guisados! Pão e vinho, tudo a fartar!
O pôr-do-sol dá a Segada do dia por terminada. Derreados de cansaço, erguidos no seu orgulho de homens fortes, valentes e trabalhadores, regressam a casa do “patrão” para um reconfortante convívio condimentado pela CEIA, com tudo a fartar!

As mulheres, heroínas maiores deste Povo, desdobram-se em esforços para terem “tudo prontinho para quando os homens chegarem”! Eles, os homens, Segadores e Atadores, sabem bem a trabalheira que essas generosas têm para os consolar, e, próximo de casa, adivinhando pelo cheirinho espalhado pelo ar os «que bem que me sabe!» que os espera, louvam as mulheres cantando:

“Ó senhora cozinheira,
Saia fora para ver,
Venha ver a sua gente,
Para lhe dar de comer”.

Mesmo escaldados por esse sol de Verão transmontano, mesmo derreados de cansaço por um trabalho feito derreado, erguem-se para a vida e para o céu, e sentem-se abençoados por aquele luar de Verão transmontano.
Sabem que vão dormir e descansar na "Pousada da Sexta Felicidade"!


(Luís Fernandes)




















1 comentário:

Anónimo disse...

“EM DIA DE SEGADA!....”


Assim, com fotografias tão lindas como a deste Post(al) até as palavras escritas , já de tinta enxuta, podem parecer fruta “sumuda” (sumosa, suculenta, mas prefiro à moda da NOSSA TERRA))) e fresca àqueles que tenham o gosto da leitura.
Os movimentos do casal estão tão lindamente combinados que nem o melhor ensaio para o palco do “Old Vic” ou do “Scala, de Milão) os conseguia mais certinhos.
Ele, o segador, num estilo categórico, perfeito, com a quantidade de palha certinha à medida da sua mão. Na outra, dá “aquele” toque de equilíbrio ao feixe e de aprumo a uma ou outra palha prestes a perder o equilíbrio, para depois o pousar certinho no monte.
A mulher, com uma linda saia de roda larga e um avental e um avental protector, escolhe as palhas com que dar o lação à gabela, antes de a aprumar e pousar no molho.
O homem veste uma camisa branca; a mulher uma blusa branca,
Está uma hora daquele calor ardente , “atroboado”, transmontano,
As mangas da camisa e as da blusa mantêm-se fechadas junto ao punho. Com tanto calor, porque será?!
O fotógrafo apanhou-os pela hora do mei-dia: não se nota um palmo de sombra!
Depois da cegada, a carreja.
Feita a meda, prepara-se a eira para a malhada - antes, com malho; hoje, com a malhadeira.
Célebre por essa extensa Normandia Tamegana ficou o «Júlio das Malhadeiras»!
Em dia de Segada ou em dia de Malhada, o cordeiro assado no forno, por aí, pelas melhores cozinheiras do mundo, era…………… Mas que dianho de feitiço têm certos Blogues?!
“Olhaide” para a seara.
“Reparaide” nos modos bonitos e delicados do segador e da ceifeira.
“Notaide” o tom dourado da palha e da espiga.
E agora ainda “bos admirendes” que toda a “bida” se ande a falar do «Trigo de Quatro Cantos, de FAIÕES» e daquele pão em vias de extinção que dá pelo nome de «Sêmea de LEBUÇÃO»?!
Bem m’ou finto!

M., 12 de Julho de 2013
Romeiro de Alcácer