Um tom escuro, pardacento, pesado, instala-se, hoje, e envolve Novembro que, no lento definhar dos dias, nos brinda com frio, pouco, pelas manhãs, e um sol radioso, que aquece o corpo e a alma, durante o dia. Ninguém diria que o Inverno está à porta.
Novembro continua a desfolhar-se em manhãs pardacentas, nebulosas, e tardes melancólicas e calmas. de ocasos de fogo a perderem-se no azul violáceo da distância.
Que magnífico espectáculo nos oferece a Natureza, nesta paleta de cores, que vai do castanho ao amarelo, passando pelo avermelhado das cerejeiras e das videiras de braços erguidos ao céu.
Aqui, ao amanhecer, o doce encanto do cantar do galo, misturado com outros sons, com outros perfumes, com mil perfumes, que me inebriam, quando abro a porta da varanda do meu quintal. A nogueira, centenária, que domina todo o espaço, já se despojou das folhas, como quem despe uma roupagem velha e, cedo, a trocará por outra, mais fina, mais verde, mais aconchegante. A passarada perdeu o abrigo mas, depressa, escolheu poiso no azevinho que não larga as folhas por nada. É aí, no azevinho, que eles, melros, pardais e estorninhos, soltam as suas melodias e, ao mesmo tempo, vão debicando nos dióspiros, que continuam na árvore. Como dizia o meu Pai _ eles não podem morrer à fome.
Já é dia, porque o sino da Igreja já tocou à Oração, em tom lento, compassado, para acompanhar o ritmo da reza.
Ao longe, muito longe, oiço, em surdina, a voz, doce, da minha Mãe:
Bendita e louvada seja a luz do dia
Bendito e louvado seja quem a cria
Bendita e louvada seja a luz do dia
Bendito e louvado seja quem a cria
Em honra e louvor da Virgem Maria
Um Pai Nosso e uma Avé Maria.
Acabou a reza nas casas da minha terra e, agora, que o dia já despontou, são horas de começar a labuta, a azáfama de todos os dias..
Porque, lá diz o povo _ Quem não trabuca não manduca!
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