Quando os dias começam tarde

Levantei-me cedo, como acontece quase todos os dias, e fui à varanda, lavar os olhos na paisagem. Não gosto de chegar atrasada às manhãs, em qualquer altura do ano.

Agora que é Outono, e o sol acorda mais tarde, faz com que as pessoas lhe sigam o exemplo.

Não oiço qualquer barulho que me faça acreditar que o dia começou na minha terra: nem o chiar dos carros de bois, nem o grito dos pastores dominando os rebanhos, nem o ladrar dos cães que os acompanham e ajudam, enfim, Lebução ainda descansa como se a noite se prolongasse até mais tarde.

Olho a paisagem, coberta por um céu cinzento, onde o sol não consegue vencer a espessura das nuvens. Uma neblina densa, condensada, que se soltou do céu, paira sobre as casas e junta-se ao fumo que começa a sair das chaminés.

Sobressaindo, como um monumento de braços erguidos, está a minha velha nogueira, despojada das suas vestes, mas sempre altiva e abrigando a passarada.

Oiço, aqui ao lado, na torre da Igreja, umas badaladas que chamam o povo à "Oração".

Um toque programado, que nada tem a ver com o procedimento de outros tempos. Tocava-se à "Oração" ao romper do dia, e fazia-o, indiscriminadamente, a pessoa que passasse junto da Igreja, nesse momento.

Envolta nos meus pensamentos, veio-me à memória a reza que a minha mãe fazia, nesse momento mágico, em que a noite se recolhe e cede espaço ao dia que vai começar:

Bendita e louvada seja a luz do dia,

bendito e louvado seja Quem tudo cria,

Bendita e louvada seja a luz do dia,

bendito e louvado seja Quem tudo cria,

bendito e louvado seja o fruto sagrado,

da sempre puríssima Virgem Maria.
Amen.
bendito e louvado seja o fruto sagrado,

da sempre puríssima Virgem Maria.
Amen.

Um Pai Nosso

Uma Avé Maria.