Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Velho castanheiro






Pela estrada, que entre cerejais ondeia,


Uma pequerrucha, – tró-la-ró-la-rá


–Vai cantando e guiando o carro para a aldeia...


São os bois enormes, e a carrada cheia


Com um castanheiro apodrecido já.





E os dois bois enormes, colossais, fleumáticos,


Na aleluia imensa, triunfal, da aurora,


Vão como bondosos monstros enigmáticos,


Almas por ventura d’ermitões extáticos,


Ruminando bíblias pelos campos fora!...





Ao arado e ao carro presos noite e dia,


Como dois grilhetas, quer de Inverno ou V’rão!


E, submissos, uma pequerrucha os guia!


E nos sulcos que abrem canta a cotovia,


As boninas riem-se e amadura o pão!...





E eis no carro morto o castanheiro, enquanto


Melros assobiam nos trigais além...


Heras amortalham-no em seu verde manto...


Deu-lhe a terra o leite, dá-lhe a aurora o pranto...


Que feliz cadáver, que até cheira bem!...





Oh, os bois enormes, mansos como arminhos,


Meditando estranhas, incubas visões!...


Pousam-lhes nas hastes, vede, os passarinhos,


E por sobre os longos, tórridos caminhos


Dos seus olhos caem bênçãos e perdões...





Chorarão o velho castanheiro ingente,


Sob o qual dormiram sestas estivais?


Almas do arvoredo, o seu olhar plangente


Saberá acaso misteriosamente


Traduzir as línguas em que vós falais?!...





Castanheiro morto! que é da vida estranha


Que no ovário exíguo duma flor nasceu,


E criou raízes, e se fez tamanha,


Que trezentos anos sobre uma montanha


Seus trezentos braços de colosso ergueu?!...




(Guerra Junqueiro)










1 comentário:

Anónimo disse...

(...Noite escura!... enigmas!... Ai, do que eu preciso,
Boieirinha linda, linda d’encantar,
É dessa inocência, desse paraíso,
Da alegria d’oiro que há no teu sorriso,
Da candura d’alva que há no teu olhar!...

Grandes bois que adoro, p’ra fortuna minha,
Quem me dera a vossa mansidão cristã!
Arrotear os campos, fecundar a vinha,
E nos olhos garços duma boieirinha,
Ter duas estrelas virgens da manhã!...

E também quisera, mortos castanheiros,
Como vós erguer-me para o Sol a flux,
Dar trezentos anos sombra aos pegureiros,
E num lar de choça, em festivais braseiros,
A aquecer velhinhos, desfazer-me em luz!...)