Lá anda, novamente, o Inverno a interferir nos assuntos da Primavera, o que nos põe, a todos, a bater o dente. Este frio e muita chuva, já fora de época, deixam, os lavradores da minha terra, à beira de um ataque de nervos. É o calendário a trocar-nos as voltas e a andar para trás, num ciclo que não é usual.
Noutros tempos, em anos de seca, organizavam-se procissões de fé e esperança, as Ladaínhas, pedindo aos santos água para fertilizar os campos e permitir boas colheitas. E, acerca dessas Ladaínhas, em anos de seca, ouvi, a um amigo, uma história, no mínimo hilariante.
Há meses que não chovia, numa aldeia de concelho de Vinhais. A população, desesperada, recorreu a um seminarista da terra, a passar férias na localidade, pedindo que organizasse uma Ladaínha, implorando a benção da chuva.
E aí vão eles, percorrendo os caminhos habituais, o povo seguindo o candidato a sacerdote que, clamando por todos os Santos da Corte Celestial, pedia, fervorosamente, água para molhar os campos.
Depois de recolher a procissão, o povo e o seminarista, recolheram, também, a suas casas.
Dali a pouco começou a ouvir-se, ao longe, o som do trovão, presságio de tempestada. Não tardou muito, abateu-se sobre a localidade uma trovoada tal, com chuva diluviana que, em instantes, arrasou culturas e matou gado que andava no monte.
Conta-se que o seminarista teve que fugir, porque o povo, enfurecido, com a desgraça que se tinha abatido sobre a terra, culpou-o de tamanha catástrofe. Entendeu, o povo, que a reza não teria sido bem feita, para a água vir na medida certa... Também, seminarista não é padre!
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