Em muitas comunidades transmontanas celebra-se esta noite a tradição das Endoenças. Trata-se de um ritual carregado de emoção, especialmente em Vinhais, quando narra a procura desesperada de Cristo por Nossa Senhora, ora seguindo pelas ruas o seu rasto de sangue, ora perguntando a uns e outros se alguém o viu. Em Sabrosa mantém-se esta noite a “procissão do encontro”, representação comovente do momento em que a mãe encontra o filho sob a cruz a caminho do Calvário. O povo assiste e participa, em lágrimas, com o pranto embargando as vozes nos cânticos.
Mas endoenças é sinónimo de indulgências, portanto remissão de pecados, uma prática que noutros tempos adotava rituais expiatórios tenebrosos, com autoflagelação pública nas procissões. A memória dos povos não apagou ainda os cortejos de penitentes e flagelados da “Quinta-feira de Endoenças”. Pessoas que aliviavam a consciência pesada das suas culpas procurando imitar o sofrimento infligido a Cristo pelas culpas do mundo. Por isso se autoflagelavam nas procissões. E ao seu lado seguiam familiares com bacias e panos para evitar que o sangue da autoflagelação fosse derramado no chão.)
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