Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

terça-feira, 26 de agosto de 2014

“A madrinha!”



A madrinha!”
“Às cachopas de Valpaços”
Luís Agá Fernandes
I
Ele subia o tapete rolante do «shopping».
Ia a meio.
Ela descia o tapete rolante do «shopping».
Estava no cimo.
Não tiravam os olhos um do outro.
Ele mexeu os lábios e disse: amo-te!
Ela mexeu os lábios, deu brilho ao olhar e disse: odeio-te!
Ele chegou ao cimo da subida e voltou-se para trás.
Contemplativo e estranho, viu-a de costas
Ela chegou ao fim da descida e voltou-se para trás.
Pôs mais brilho no olhar.
Iluminou ainda mais o sorriso.
Mexeu os lábios.
E disse: amo-te!
Ele mexeu os lábios e soltou um grito abafado: adoro-te!
Os que subiam e desciam o tapete rolante do «shopping» bateram com a curiosidade na cara do homem na subida e logo desviaram o espanto para o corpo da mulher na descida.
Ela saiu do «shopping» com um ar cheio de graça.
Ele deu meia dúzia de passos tremidos e sentou-se no banco, a meio do corredor. Apoiou os cotovelos nos joelhos. E escondeu a cara, os olhos e os pensamentos nas conchas das mãos.

II
O Liceu era no Jardim das Freiras.
A Escola Comercial e Industrial, no Jardim do Bacalhau.
O Liceu continuou nas “Freiras”.
A Escola Comercial e Industrial teve casa nova, mais pertinho do rio.
Os estudantes “comerciais e industriais” resolveram fazer uma festa de «finalistas».
Prepararam a sala maior para o baile.
Foram à Galiza contratar “Los Satélites da Nicarágua”.
Românticos, coleantes, os ritmos latinos convidavam ao «pé – de – dança».
Ele dançava com uma cachopa que trazia de baixo de olho, convencido da sua competência de bom dançarino.
Ela dançava com ar divertido, convencida da sua beleza e da fatalidade dos seus lindos olhos.
Quando os pares de ambos ficaram de costas voltadas, ele mexeu os lábios e disse: amo-te!
Três compassos depois, quando os pares de ambos ficaram de costas voltadas, ela mexeu os lábios e disse: odeio-te!
Duas danças dançadas, ela puxou-lhe um braço e ordenou: quero dançar contigo.
O seu par ficou furioso. Acolheu-se junto de um grupo de amigos, a deitar lume pelos olhos, a bufar como um bisonte, a espumar raiva como um cão danado.
Ele e Ela foram dançar.
Não mais se «largaram».
Os “Satélites da Nicarágua” tocaram o «Jalousie».
Ele e Ela nem se deram conta de que ficaram sós, no meio do salão, a prolongar os últimos passos daquele tango.
Na assistência, uns riram a “bandeiras despregadas”; outros bateram palmas.
De mão dada, saíram para o corredor.
Ambos roubaram um ao outro, ao mesmo tempo, um beijinho sôfrego e breve.
Ela sentou-se numa cadeira. E chorou.
O seu par mostrava a sua fúria por ter ficado “desamparado”. Pedia aos amigos para o segurarem, senão matava alguém!
Ele pediu um copo de água para ela.
Ela agarrou-lhe a mão. Com força. Como a não querer deixá-la nunca.
Ele ouviu-lhe baixinho: … a minha madrinha!
Ela ergueu-se da cadeira.
Chamou umas amigas.
E disse-lhes: vamos embora!
Ele ficou no cimo das escadas a vê-la partir.
Ela desceu.
E à porta, voltando-se para trás, disse, de modo que todos ouvissem: amo-te!

III
Cinquenta anos depois, sentado no banco do «shopping», a meio do corredor, voltou-se para mim, e falou:
-“A travessia de todos os continentes levou-me sempre para um “Cabo de Tormentos”.
Peregrino toda a vida, ainda não cheguei à Terra Santa.
As minhas «entradas» mostram bem as «Partidas» que os sonhos, as ambições e os desejos me aprontaram.
Quando morrer, não me importo de ir para o Inferno. A ele já estou habituado nesta vida”!


M.s, 5 de Agosto de 2014
Romeiro de Alcácer

























1 comentário:

Lamartine DIas disse...

Elaboração um pouco complexa dos trajectos das nossas vidas!!