Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

segunda-feira, 16 de março de 2015

A Encomendação das almas _ tempo de Quaresma




Terminado o Entrudo, terminam as tréguas do pecado, e entra-se num período de recolhimento e reflexão, que decorre até à Páscoa. A este período chama-se Quaresma.
A tradição de encomendar as almas, um ritual do período de Quaresma, tempo de sacrifício e oração, leva as pessoas à rua, à noite, para fazerem orações pelos que já partiram.

Esta tradição exorta os vivos para que se acautelem com os erros, sob pena de caírem no inferno, mas visa especialmente as almas daqueles que não puderam na agonia preparar-se para o momento da passagem: afogados, assassinados, acidentados. 

Alexandre Parafita, investigador do Centro de Estudos de Letras da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), afirma que, em algumas comunidades rurais, outrora cantavam-se os "martírios", geralmente pelos homens, cabendo às mulheres os cânticos da "encomendação". 
Os "martírios" eram cânticos que retratavam o caminho penoso de Cristo até ao Calvário.
Por norma, segundo Alexandre Parafita, a tradição da "encomendação das almas" acontece nas sete noites de sexta-feira antes da Páscoa, e manifesta-se "em cortejos lúgubres, que representam cenários medievais, com homens encapotados, mulheres de xailes negros pela cabeça, lanternas nas mãos, e onde se entoam cânticos tristes e angustiosos em louvor e sufrágio dos mortos".

Em Lebução, dizem os mais velhos, durante a Quaresma, já noite cerrada, à luz de velas ou lanternas, grupos de homens encapotados e mulheres com os seus xailes pretos pela cabeça, reuniam-se na Fonte da Igreja, junto ao Peto e em locais específicos da aldeia. Aí entoavam, em coro, com tom dolente e triste, e cheio de angústia, cânticos em memória das benditas almas do Purgatório.



Este é um dos cânticos da “encomendação:

À porta das almas santas
Bate Deus a toda a hora.
As almas lhe responderam
Ó meu Deus, que queres agora?

Quero que deixeis o mundo
E que venhais para a glória
Em companhia dos anjos
E da Virgem Nossa Senhora.

Quem quiser dar esmolas aos pobres,
Não precisa de ter riqueza,
Dai das vossas migalhinhas
Que sobram da vossa mesa. 

Quem quiser dar esmola aos pobres,
Reparai bem como a dais.
Dai-a com a mão direita
Por alma dos vossos pais.

Santa Teresa de Jesus,
Menina de cinco anos,
Meteu cartas ao correio
Este mundo é de enganos.

Santa Teresa de Jesus
Foi ao inferno em vida,
Veio toda admirada
De ver tanta alma penada.



































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