Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

sábado, 7 de janeiro de 2017

Morreu Mário Soares




Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em Lisboa, na atual freguesia de Santo António, a 7 de dezembro de 1924. Foi o segundo filho de João Lopes Soares e Elisa Nobre Baptista. O pai, teólogo, ex-sacerdote católico, pedagogo e político, foi ministro na I República e convicto combatente do salazarismo. Mário Soares casou com Maria de Jesus Barroso, que conheceu na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, quando estava preso, e de quem teve um filho e uma filha, João Soares e Isabel Soares.

Frequentou o Colégio Nun'Álvares e o Externato D. Dinis, mas concluiu os estudos secundários no Colégio Moderno, fundado por seu pai. Matriculou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas em 1951. Todavia, prosseguiu os estudos na Faculdade de Direito para se licenciar em 1957. Enquanto exerceu a advocacia foi também professor do ensino secundário e diretor do Colégio Moderno, propriedade da família.

Um dos mais famosos e interventivos lutadores contra a ditadura do Estado Novo, Mário Soares conquistou o direito ao cognome de "Pai da Democracia". Preso doze vezes pela polícia política do regime, acabou por ser deportado sem julgamento, em 1968, para a ilha de São Tomé, até se exilar em França dois anos mais tarde. Fundador do Partido Socialista, regressou a Portugal três dias depois da Revolução de Abril. Foi três vezes Primeiro-Ministro e Presidente da República durante dois mandatos.

A política nas veias

Mário Soares herdou do pai o génese da política e o espírito de combatente contra o regime de Salazar.

Desde os tempos de estudante universitário foi um ativo resistente à ditadura. Pertenceu ao MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista), em maio de 1943, e, depois, foi membro da Comissão Central do MUD (Movimento de Unidade Democrática), tendo sido fundador do MUD Juvenil. Foi secretário da Comissão Central da Candidatura do General Norton de Matos à Presidência da República, em 1949, integrou o Diretório Democrático-Social (1955), e pertenceu à comissão da candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República, em 1959.

Foi membro da Resistência Republicana e Socialista, na década de 50, redator e signatário do programa para a Democratização da República em 1961, tendo sido candidato a deputado pela Oposição Democrática em 1965 e pela CEUD, em 1969. Foi 12 vezes preso pela PIDE (cumprindo um total de quase 3 anos de cadeia), deportado sem julgamento para a ilha de S. Tomé, em 1968, e em 1970 foi forçado ao exílio em França. Em 1973, no Congresso realizado em Bad Münstereifel, na Alemanha, a Ação Socialista Portuguesa, que fundou em 1964, transformou-se em Partido Socialista, do qual Mário Soares foi eleito secretário-geral, e sucessivamente reeleito no cargo ao longo de quase treze anos.

Como advogado, defendeu em inúmeros julgamentos dezenas de presos políticos, quase sempre realizados em condições dramáticas no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Representou a família do general Humberto Delgado na investigação do assassinato daquele antigo candidato à Presidência da República, tendo contribuído decisivamente para desvendar as circunstâncias e denunciar as responsabilidades nesse crime cometido pela polícia política de Salazar (PIDE).

O grande inimigo do "gonçalvismo"

Quando estalou a Revolução do 25 de Abril de 1974 Mário Soares estava no exílio em Paris, onde exerceu as funções de "Chargé de Cours" nas Universidades de Vincennes (Paris VIII) e da Sorbonne (Paris IV), tendo sido igualmente professor associado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes. Regressou a Portugal no dia 28, tendo chegado a Lisboa em ambiente de euforia política no então designado "comboio da liberdade". Pouco depois partiu de novo, desta feita enviado pela Junta de Salvação Nacional às capitais europeias para obter o reconhecimento diplomático do novo regime democrático, já empossado como ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório liderado por Palma Carlos.

Participou ainda nos II e III Governos Provisórios, na mesma pasta dos Negócios Estrangeiros, tendo desempenhado um papel fundamental no processo da descolonização. No IV Governo Provisório foi Ministro sem Pasta, demitindo-se em protesto pelo chamado "caso República" e pela crescente tentativa de perversão totalitária da revolução. Com a sua demissão, abriu-se uma crise governamental que levou à queda desse Governo e, depois, à contestação ao V Governo Provisório e à demissão de Vasco Gonçalves, período que ficou conhecido por "gonçalvismo", no então designado "verão quente de 75".

Durante o período revolucionário, que ficou conhecido como PREC, Mário Soares foi o principal líder civil do campo democrático, congregando em torno do Partido Socialista todas as forças que não admitiam o assalto ao poder por parte das forças marxistas ligadas ao PCP. À época ficou célebre o comício da Fonte Luminosa, em Lisboa, que juntou muitas centenas de milhares de pessoas em protesto contra a ameaça de uma ditadura comunista. Mais tarde, Mário Soares voltou a ser um elemento fundamental no 25 de Novembro, movimento militar que repôs o espírito original e democrático da Revolução de Abril.

Uma vida difícil como Primeiro-Ministro

Como líder do Partido Socialista, Mário Soares ganhou as primeiras eleições legislativas realizadas em 1976, sendo nomeado Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais entre 1976 e 1978. Nesse período, foi necessário enfrentar e resolver uma situação de quase rutura financeira e de paralisia das atividades económicas do país, que obrigou à aplicação de um programa de estabilização financeira negociado com o FMI, graças ao qual foi possível celebrar um "grande empréstimo" e voltar a pôr a economia a funcionar.

Foi ainda durante o I Governo Constitucional que se procedeu à integração de quase um milhão de portugueses retornados das ex-colónias. Para assegurar a estabilidade governativa do seu segundo governo, Mário Soares fez um acordo de incidência parlamentar com o CDS que lhe permitiu alguma acalmia durante o ano de 1978. Todavia, rompido que foi, por denúncia unilateral dos centristas o referido acordo político, o Governo caiu por decisão do então Presidente da República, general Ramalho Eanes, tendo Mário Soares liderado a oposição entre 1978 e 1983, empenhando-se, todavia, no processo da primeira revisão da Constituição da República.

Esta revisão constitucional eliminou finalmente a tutela político-militar do Conselho da Revolução, que vinha dos primeiros tempos da Revolução, e consagrou o caráter civilista, pluripartidário e de tipo ocidental do regime. Foi então criado o Conselho de Estado, para o qual Mário Soares foi eleito pelo Parlamento. Após nova dissolução da Assembleia da República, ocorrida em 1983, e na sequência das eleições legislativas que voltaram a dar a vitória ao PS, Mário Soares foi novamente nomeado Primeiro-Ministro do IX Governo Constitucional, com base numa coligação partidária PS/PSD (1983-85). Coube a este Governo ultimar o processo de entrada de Portugal na CEE, conduzir as últimas negociações e assinar o Tratado de Adesão, em junho de 1985.

A Presidência da República como meta

Apesar de o PS ter perdido as eleições de Outubro de 1985, realizadas por força de nova dissolução da Assembleia da República, em consequência do rompimento, pelo PSD, da coligação PS/PSD, Mário Soares candidatou-se às eleições presidenciais, em Janeiro de 1986. Teve o apoio de independentes e do PS na primeira volta, e de toda a esquerda na segunda volta, tendo sido eleito em 16 de fevereiro.

Em 13 de janeiro de 1991 foi reeleito Presidente da República, logo à primeira volta, com a maior votação de sempre, terminando o seu segundo mandato em 9 de Março de 1996. O seu segundo mandato presidencial foi marcado pelas então designadas "presidências abertas", caracterizadas por visitas programadas do Presidente a várias regiões do País, para auscultar as queixas das populações. Mário Soares não se coibia da criticar abertamente algumas políticas governamentais, criando grandes embaraços ao Executivo, ao tempo liderado por Aníbal Cavaco Silva.

Nas eleições presidenciais de 2005, Mário Soares candidatou-se de novo a Belém, mas apenas obteve o terceiro lugar com uma humilhante votação de 14 por cento dos votos. Entre 1999 e 2004 foi deputado ao Parlamento Europeu, disputando então a eleição para presidente do parlamento, mas perdeu para a francesa Nicole Fontaine. Terminado o mandato de deputado europeu, Mário Soares dedicou-se às mais variadas causas cívicas, presidindo a múltiplos organismos e instituições nacionais e internacionais.

Uma referência internacional

Entre muitos outro cargos, destacou-se como presidente da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos (1995-1998), do Movimento Europeu Internacional (1997-1999), de que em seguida se tornou presidente honorário, do Comité dos Sábios para a Reestruturação do Conselho da Europa (1997-1998), da Missão de Informação sobre a situação da Argélia, por nomeação do Secretário-Geral das Nações Unidas (1998), da Delegação do Parlamento Europeu para as relações com Israel (2002), e da Inter-Press Service (2002-2008).

Mário Soares foi fundador e presidente da Fundação João Soares, em honra de seu pai, presidente da Fundação Portugal-África, membro honorário da Academia das Ciências de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Sociedade Portuguesa de Escritores, Presidente do Conselho de Patronos da Fundação Arpad Szennes/Vieira da Silva, membro do Júri Prémio Pessoa, etc.

Ao longo da sua vida política, Mário Soares publicou mais de uma dezena de livros, e centenas de artigos na Imprensa. Foi autor e participou em múltiplos programas de televisão, e recebeu vários doutoramentos Honoris Causa por múltiplas universidades nacionais e estrangeiras, e dezenas de títulos honoríficos, tendo ainda sido agraciado com mais de meia centena de condecorações de outros tantos países dos cinco continentes
Fonte: TSF









































.








Sem comentários: