Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Depois da apanha o Rebusco




Outeiros e linhares, touças e soutos tingem-se de cor, última esperança, em matéria cromática, antes que o sombrio e cinzento Inverno se apodere da terra.
Temia-se o pior, mas o ano trouxe colheita bastante de castanha.

E porque caiu bem, apanhou-se depressa, por isso, o rebusco não se fez esperar.

Os antigos falam desta tradição, que se baseava em dar o “rebusco” aos mais pobres. Mais não era que a parcela de castanhas que os proprietários deixavam nas árvores por excesso de produção ou por dificuldades de apanha.

Após uma data determinada, geralmente o dia 11 de Novembro, os mais desfavorecidos tinham assim autorização para entrar nas propriedades e apanharem os frutos que restavam,
E esta tradição é, para mim, uma das mais belas da nossa terra, porque reflecte o espírito de partilha de solidariedade.

Mostra, ainda, respeito para com a natureza que se não deve extenuar.
O rebusco tem, seguramente, o seu fundamento nos seguintes textos bíblicos:


"Quando tu segares a seara dos teus campos, não cortarás rés do chão o que tiver crescido sobre a terra; nem enfeixarás as espigas que tiverem ficado.
Não recolherás também na tua vinha os cachos que ficaram da vindima, nem os bagos que caíram; mas deixá-los-ás tomar aos pobres e aos peregrinos. (Levítico, 19, 9-10) "


Não colhas tudo o que Deus pôs à tua disposição, partilha com os pobres e com quem, por ser estrangeiro, precisa de sustento - e aqui está a síntese desta passagem bíblica.
O rebusco é a corporificação da lei de Deus. Simples, bela e grandiosa.






5 comentários:

Leandro Afonso disse...

belas tardes de brincadeira passei eu nos verões em Lebução, no meio de tanto castanheiro, inventavamos lutas e castelos e 30 por uma linha! espero que esses campos se mantenham assim por muitos mais anos para os meus futuros filhos sentirem o mesmo que eu!!!

o novo design do blog está muito bonito :)

José Doutel Coroado disse...

Cara Profª Graça,
belo post!
nunca tinha apreciado essa tradição do rebusco sob essa faceta.
abs

João Ratão disse...

Respigar, tal como é descrito no dicionário, significa apanhar os restos após a colheita de cultivo. Sem margem para qualquer dúvida, é o mesmo que rebuscar.
Se antigamente era uma prática comum, o aparecimento de máquinas arrastadeiras vieram substituir este hábito cultural generalizado. No entanto, existem ainda respigadores nos nossos dias, quer no meio rural quer no meio urbano, que o fazem por variadas razões: necessidade, prazer, hábito cultural (transmitido de geração em geração), gestão económica ou por preocupação ética.

Anónimo disse...

Rebusco o pequeno fruto
No meio das ervas daninhas.
A sua seiva vai escorrendo,
Por entre os dedos gelados,
Destas mãos tão pequeninas.

O balde nunca mais enche?
Quando é que regresso a casa?
Ainda não apanhei meio alqueire,
Nem sequer uma quarta rasa!

Vou para casa, tenho frio,
São horas de regressar.
Amanhã apanho mais,
Tenho de encher um alqueire,
Para depois o trocar.

Tempos sofridos estes!
No entanto deixaram muitas saudades...

Armando Sena disse...

Muito bonitas as fotos com o chão coberto de folhas.