Outeiros e linhares, touças e soutos tingem-se de cor, última esperança, em matéria cromática, antes que o sombrio e cinzento Inverno se apodere da terra.
Temia-se o pior, mas o ano trouxe colheita bastante de castanha.
E porque caiu bem, apanhou-se depressa, por isso, o rebusco não se fez esperar.
Os antigos falam desta tradição, que se baseava em dar o “rebusco” aos mais pobres. Mais não era que a parcela de castanhas que os proprietários deixavam nas árvores por excesso de produção ou por dificuldades de apanha.
Após uma data determinada, geralmente o dia 11 de Novembro, os mais desfavorecidos tinham assim autorização para entrar nas propriedades e apanharem os frutos que restavam,
E esta tradição é, para mim, uma das mais belas da nossa terra, porque reflecte o espírito de partilha de solidariedade.
Mostra, ainda, respeito para com a natureza que se não deve extenuar.
O rebusco tem, seguramente, o seu fundamento nos seguintes textos bíblicos:
"Quando tu segares a seara dos teus campos, não cortarás rés do chão o que tiver crescido sobre a terra; nem enfeixarás as espigas que tiverem ficado.
Não recolherás também na tua vinha os cachos que ficaram da vindima, nem os bagos que caíram; mas deixá-los-ás tomar aos pobres e aos peregrinos. (Levítico, 19, 9-10) "
Não colhas tudo o que Deus pôs à tua disposição, partilha com os pobres e com quem, por ser estrangeiro, precisa de sustento - e aqui está a síntese desta passagem bíblica.
O rebusco é a corporificação da lei de Deus. Simples, bela e grandiosa.
5 comentários:
belas tardes de brincadeira passei eu nos verões em Lebução, no meio de tanto castanheiro, inventavamos lutas e castelos e 30 por uma linha! espero que esses campos se mantenham assim por muitos mais anos para os meus futuros filhos sentirem o mesmo que eu!!!
o novo design do blog está muito bonito :)
Cara Profª Graça,
belo post!
nunca tinha apreciado essa tradição do rebusco sob essa faceta.
abs
Respigar, tal como é descrito no dicionário, significa apanhar os restos após a colheita de cultivo. Sem margem para qualquer dúvida, é o mesmo que rebuscar.
Se antigamente era uma prática comum, o aparecimento de máquinas arrastadeiras vieram substituir este hábito cultural generalizado. No entanto, existem ainda respigadores nos nossos dias, quer no meio rural quer no meio urbano, que o fazem por variadas razões: necessidade, prazer, hábito cultural (transmitido de geração em geração), gestão económica ou por preocupação ética.
Rebusco o pequeno fruto
No meio das ervas daninhas.
A sua seiva vai escorrendo,
Por entre os dedos gelados,
Destas mãos tão pequeninas.
O balde nunca mais enche?
Quando é que regresso a casa?
Ainda não apanhei meio alqueire,
Nem sequer uma quarta rasa!
Vou para casa, tenho frio,
São horas de regressar.
Amanhã apanho mais,
Tenho de encher um alqueire,
Para depois o trocar.
Tempos sofridos estes!
No entanto deixaram muitas saudades...
Muito bonitas as fotos com o chão coberto de folhas.
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