Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

sábado, 13 de março de 2010

De Longe Chegam Cartas


«Prezada Graça,

Sou viúva de Octavio Carneiro, filho de Chico Carneiro, nascido em Lebução. Estava procurando uma foto na internet, com a ajuda da minha nora, que fosse representativa de Lebução, pois estou escrevendo um livro (só para mim mesma) contando a história de nossa família e queria que na capa estivessem fotos das cidades de nossos ancestrais. Eis que procurando no Google reconheço imediatamente a casa onde meu marido nasceu. Minha nora abriu então o seu Blog para que eu visse em que contexto ela estava inserida e novamente reconheci imediatamente em suas palavras e no comentário de um amigo seu o amor e o orgulho que meu marido demonstrava sempre que falava de sua terra natal. Fiquei emocionada...

Sinta-se abraçada por uma brasileira, também descendente de portugueses, que adorou visitar o seu Blog.

Maria Delfina Carneiro»


Recebi este email de Maria Delfina Carneiro, viúva de Octávio Carneiro, filho desta terra, que partiu cedo para o Brasil e lá construíu vida, sem nunca esquecer a sua terra natal.

Para a Maria Delfina e filhos vai este Post da casa que foi de seus sogros/ avós, Francisco Carneiro e Maria Adelaide Teixeira, hoje pertença de Ernesto Alves, e um poema de Guerra Junqueiro:



Ai, há quantos anos que eu parti chorando

deste meu saudoso, carinhoso lar!...

Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...

Minha velha ama, que me estás fitando,

canta-me cantigas para me eu lembrar!...


Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...

Só achei enganos, decepções, pesar...

Oh, a ingénua alma tão desiludida!...

Minha velha ama, com a voz dorida.

canta-me cantigas de me adormentar!...


Trago de amargura o coração desfeito...

Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!

Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...

Minha velha ama, que me deste o peito,

canta-me cantigas para me embalar!...


Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho

pedrarias de astros, gemas de luar...

Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...

Minha velha ama, sou um pobrezinho...

Canta-me cantigas de fazer chorar!...


Como antigamente, no regaço amado

(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!

Ai o teu menino como está mudado!

Minha velha ama, como está mudado!

Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...


Canta-me cantigas manso, muito manso...

tristes, muito tristes, como à noite o mar...

Canta-me cantigas para ver se alcanço

que a minha alma durma, tenha paz, descanso,

quando a morte, em breve, ma vier buscar!


(Guerra Junqueira)

6 comentários:

Anónimo disse...

Olá, Graça.
Como eu fiquei contente de ver o teu Blog!
E comoveu-me este poema de Guerra Junqueiro porque parecia dirigido a mim.
Acho que sabes quem sou, mas vou dizer mais alguma coisa para me identificares melhor.
Essa senhora Delfina é alguma coisa à Lígia?
Beijo

Anónimo disse...

Ola Graça,

Obrigada pelos seus artigos e pelo seu trabalho neste blog, mas não estou a ver onde é que ficam estas casas.

Fico a espera de outros artigos!
Obrigada.

Graça Gomes disse...

A casa é só uma, vista de ângulos diferentes.
Hoje pertence a Ernesto Alves e fica no Bairro do Eiró.

Armando Sena disse...

Este comentário/post justifica só por si a existência deste tipo de blog e demonstra bem a falta que uma ligação faz a quem está demasiado distante.
Os meus parabéns Graça.

Teresa Carneiro disse...

Querida Graça fiquei muito emocionada e feliz ao ver postada aqui a foto da casa de meus avós e meu pai!!!Agradeço de coração seu carinho e atenção para conosco.....Vou responder por e-mail algumas questões ok?Bjs no seu coração e mais uma vez obrigada!

Afonso Carneiro disse...

Viva amiga Graça,
É realmente notável as escolhas que fazes para publicar as tuas crónicas, juntas uma casa tipica transmontana com um escritor Transmontano, por sua vez a história desta casa confunde-se com a emigração, uns para o Brasil outros para a França; mas continua a ser uma casa com a traça original; e que dizer de Guerra Junqueiro, Ateu, Republicano, Revolucionário, vencido da Vida e por fim, pede um Padre na hora da Morte.
Até sempre
Um abraço
Afonso Carneiro