Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

quarta-feira, 7 de abril de 2010

À volta com as memórias


Esta casa, em granito rebocado, um pouco decadente, vincula o seu estilo pombalino e perpetua a história, ou parte dela, da minha família paterna.
Mandada construir por meus avós, Manuel José Gomes e sua esposa Maximina do Espírito Santo Pimentel, há já muitos anos. Desconheço a data de construção, mas sei que o tio Paulino, irmão mais novo do meu pai, hoje com 92 anos, já nasceu nesta casa.

À volta dela há um jardim, paredes meias com o adro da igreja e há memórias que pairam entre a recordação e a saudade de momentos que evocarei eternamente: as tardes de Inverno passadas na galeria, à volta da braseira, vendo a avó, com as suas mãos de fada, tricotando sem parar; dos domingos de Verão, no jardim, que o avô tanto prezava, ouvindo-o em manifestações de alegria que a avó, mais melancólica, não aprovava (Ó Maximina, eu do outro mundo não hei-de vir cá falar, dizia ele à gargalhada); das matanças e de todas as festanças que tal função incluía; das ceias de Natal à volta da mesa grande e cheia; das Páscoas, do folar, do Compasso...

E do tom divertido com que o avô enfrentava certas situações.
As mordomas da igreja foram um dia pedir-lhe flores para enfeitar os altares. Era sabido que o avô não deixaria cortar nem uma pétala. Perguntou por que motivo queriam as flores. Disseram que era para os santinhos, que eles tinham que ver flores à sua volta...

Então o avô, sorridente e maldoso pediu-lhes que abrissem as portas da igreja e, assim, os santos já poderiam ver todas as flores.


6 comentários:

celestino disse...

Já nesse tempo havia pessoas avançadas no tempo. O teu avô foi, seguramente, uma delas.

Graça Gomes disse...

Podes crer, Celestino. Além disso era um homem bom e duma generosidade sem limites.
Um beijo

José Doutel Coroado disse...

Cara Profª Graça,
como é saboroso ouvir "estórias" que dão vida ao nosso património.
abs

Anónimo disse...

Lembro-me do seu avô Prof. Graça e tenho muito boas recordações dele.
Os meus pais falavam-me que ele era muito amigo dos pobres e que lhe emprestava dinheiro muitas vezes. E que fiava a quem não levava dinheiro para pagar as compras. Eu rezo sempre pelo seu avozinho que deus tem.

07 Abril, 2010 12:04

Armando Sena disse...

Recordações de boa gente e de um belo palacete.
Já agora um enorme abraço ao "Tio" Paulino, um grande amigo.

Afonso Carneiro disse...

Pois é Graça, a minha memória não me leva ao teu Avô, mas devia ser um Homem Bom, como era o teu Pai o Sr Manuel Gomes (Lecho) e em relação à casa e ao teu pai, posso dizer que o meu Avô Batista passou algumas noites nessa casa com o Sr. Lecho, sei que eram grandes amigos e como não eram grandes frequentadores de tabernas... Essa amizade parece que está ainda viva... Não te parece?

SÓ um recadinho para a minha prima anónima, eu sei que a tua mãe gosta de mim e tu põe o teu nome naquilo que escreves, pois parece-me que o fazes muito bem.
Um beijo
Afonso Carneiro