Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Regresso a Casa




Homens e mulheres,velhos e novos, foram milhares os portugueses que partiram para o estrangeiro em busca de uma vida melhor. Deixavam tudo para trás, família e afectos, arriscando quanto tinham, por um destino envolvido em escuridão e incertezas. E avançavam, rumo ao desconhecido, com a esperança de construír uma vida melhor e, um dia, regressar, de vez, à sua terra.

A França atraía como nenhum outro país. Mais de milhão e meio de portugueses saíram para trabalhar na indústria, escrevendo, em páginas de sofrimento, trabalho, coragem e saudade, o período de êxodo que mais se colou ao imaginário colectivo nacional, bem patente neste poema de Adriano Correia de Oliveira:



Este parte, aquele parte

e todos, todos se vão

Ó terra ficas sem homens

que possam cortar teu pão


Tens em troca órfãos e órfãs

tens campos de solidão

tens mães que não têm filhos

filhos que não têm pai


Coração

que tens e sofre

longas ausências mortais

viúvas de vivos mortos

que ninguém consolará



O discurso político, fundamentalmente, dos últimos anos tem remetido os emigrantes portugueses para uma espécie de recanto da história. Uma nota de rodapé, crítica, colocada nas notícias de Verão dos jornais e telejornais, quase sempre relacionadas com o regresso à terra. Mas, o tempo, há-de dar-lhes, nas páginas da nossa história, o merecido lugar, conseguido à custa de trabalho, muito trabalho, saudades e solidão.


Agosto continua a ser mês de emigrantes e tempo para matar saudades. Rejuvenescem, por estes dias, as nossas aldeias, disfarçando a desertificação. Nas ruas quebra-se o silêncio, o conformismo, a solidão e ouvem-se vozes e gargalhadas que ecoam nos nossos corações. E abrem-se portas e janelas de casas que, há muito, se encontravam em silêncio. A alegria volta às ruas. É assim um pouco por todo o lado, e a minha terra não foge à regra, com toda esta gente que traz um novo colorido à aldeia, ao mesmo tempo que apaga saudades.


Saudades da terra, saudades das suas gentes, saudades das suas festas. Para voltarem à terra que os viu nascer, fazem milhares de quilómetros, e vão homenagear os entes perdidos, abraçar os seus familiares, correr as ruas da sua infância. Cheirar os pinhais, os eucaliptos e o rosmaninho, ver correr a água cristalina no ribeiro, beber a água na fonte, ouvir o som do gado, à tardinha, o bater dos seus cascos no empedrado da terra, de regresso aos currais. Ver ou idealizar a casa dos seus sonhos, contrastando com as construções antigas existentes, e fora de moda.


E os afectos à flor da pele, neste reencontro, repetido ao longo dos anos, porque, não tarda, estamos em Agosto.


Boas férias!
















2 comentários:

João C. Branco disse...

(Emigrantes)
Vieram cedo
Mortos de cansaço
Adeus amigos
Não voltamos cá
O mar é tão grande
E o mundo é tão largo
Maria Bonita
Onde vamos morar
Na barcarola
Canta a Marujada
- O mar que eu vi
Não é como o de lá
E a roda do leme
E a proa molhada
Maria Bonita
Onde vamos parar
Nem uma nuvem
Sobre a maré cheia
O sete-estrelo
Sabe bem onde ir
E a velha teimava
E a velha dizia
Maria Bonita
Onde vamos cair
À beira de àgua
Me criei um dia
- Remos e velas
Lá deixei a arder
Ao sol e ao vento
Na areia da praia
Maria Bonita
Onde vamos viver
Ganho a camisa
Tenho uma fortuna
Em terra alheia
Sei onde ficar
Eu sou como o vento
Que foi e não veio
Maria Bonita
Onde vamos morar
Sino de bronze
Lá na minha aldeia
Toca por mim
Que estou para abalar
E a fala da velha
Da velha matreira
Maria Bonita
Onde vamos penar
Vinham de longe
Todos o sabiam
Não se importavam
Quem os vinha ver
E a velha teimava
E a velha dizia
Maria Bonita
Onde vamos morrer

Zeca Afonso

Joaninha voa voa disse...

Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não