Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

domingo, 21 de agosto de 2011

Lebução, imagens do passado





Regressei ao passado, nestas imagens, e os meus passos perderam-se nas ruas estreitas e cruzaram-se com gente simples, afável e acolhedora.


Olho o Largo da Praça, e o tanque, e a casa do tio Paulino, enquanto o vento suspira e se arrasta para a folhagem, e as mulheres, de cântaros na cabeça, correm a caminho de casa.


Olho a Praça, outra vez, onde as pessoas bebem o Sol, bebem as palavras, bebem a vida, num ritual que se repete dia após dia.


E há um cheiro no ar que entra na pele e nos percorre o corpo e acaricia a alma - Cheiro de feno, nos grandes e barulhentos carros de bois, cheiro de pão, acabadinho de sair do forno ( da Cacilda, da Quinhas, da Lídia) e outros cheiros, mais indefinidos - de azul, de asas, de nuvens, de água caindo da bica para o tanque.


Olho, novamente, para a Praça e vejo Procissões de penitência e de anjinhos e andores, nas festas da nossa alegria. Vejo arraiais, até de madrugada, com os Canários e os Pardais a despicarem-se, agora tocas tu, agora toco eu, e o povo, animado, tirando o pé do chão, até não poder mais.


A Procissão já passou na Praça e já vai na rua Central, a caminho da Igreja, ao compasso da Banda, que marca o ritmo da marcha. Mulheres, com cargas na cabeça, produtos da terra, rodeiam o andor da Senhora dos Remédios, pagando as promessas feitas em momentos de aflição.


Agora, olho para a Igreja, a nossa Igreja, dominando o casario, mas, interiormente, devastada por quem não respeita a tradição e tudo arrasta na voragem duma modernidade balofa.


E o vento que continua a soprar das montanhas, sussurra, o que todos puderam escutar: "Perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem."




























4 comentários:

Maria do Sameiro Lucio disse...

"Parabéns pelas lindas imagens,linda como sempre a procissão da nossa aldeia.bjs"

Maria Saudade disse...

Ora aqui estão as fotos do meu tempo. E as saudades que eu tenho de tudo isso. Do largo da Praça com o tanque que tiraram para outro lugar. Da rua principal com as casas velhinhas mas sempre bonitas. Parece-me a sr. Estefania na sua varanda. Quantas saudades eu tenho desses tempos e dessa terra donde nunca devia ter saído.

Lebuçanense Ausente disse...

Ó minha terra, onde eu nasci

Quantas saudades eu tenho de ti

O amor redobra, com as saudades

Tu és para mim o doce toque das trindades


Ai,ai,ai...ai,ai,ai

Velhos caminhos como é bom voltar

Ai,ai,ai...ai,ai,ai


Doces caminhos deixai recordar

Adoro em ti, esses teus tempos de menino

Pois foi então que Deus traçou o meu destino

Nas horas tristes com a mãe a abençoar

Eras tu ó minha terra

Doce afago a confortar

Eu quero ouvir os teus pardais ao desafio

Quero sentir a sombra amiga do Estio

Em teus folgedos reviver com emoção

Ó pião da minha infância

Vem de novo à minha mão


Ó minha terra, onde eu nasci

Quantas saudades eu tenho de ti

O amor redobra, com as saudades

Tu és para mim o doce toque das trindades

Ai,ai,ai...ai,ai,ai

Maria Saudade disse...

Em homenagem à minha terra da qual tenho muitas muitas saudades:

"Ai, há quantos anos que eu parti chorando
deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?... Há trinta?... Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
canta-me cantigas para me eu lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh, a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida.
canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago de amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama, que me deste o peito,
canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
pedrarias de astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!...

Como antigamente, no regaço amado
(Venho morto, morto!...), deixa-me deitar!
Ai o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Canta-me cantigas manso, muito manso...
tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!"
(Guerra Junqueiro)