
A cultura do linho, para além de constituir um valioso recurso, cuja utilização ia do vestuário à medicina e culinária, ocupava um lugar de destaque na vida das comunidades rurais. O seu cultivo estava rodeado de rituais, lendas, práticas de cultivo, cantares, que ainda hoje fazem parte da memória colectiva dessas comunidades…
Mantendo uma ligação perfeita com o meio envolvente, esta planta teve, há largos anos, grande importância no concelho, nomeadamente em Lebução.
“A sensação de abundância é-nos dada pelos belos Linhares e lameiros, à volta da povoação…” Referência a esta terra, na Monografia de Valpaços, do Dr. Veloso Martins. Esses Linhares que ainda existem, mais não são do que terrenos férteis, adequados à cultura do linho.
Era uma cultura feminina pois todo o seu cultivo passava pelas mãos da mulher:
(semear, mondar, regar, arrancar, ripar, curtir, secar, moer, espadar, assedar, fiar, ensarilhar, barrelar, dobar, urdir e tecer).
Aqui, os vários processos pela qual a matéria-prima tem de passar até chegar à última fase que é o tear onde se converte numa bela peça de linho.
Esse linho que era usado em toda a espécie de vestuário, desde a toalha branca que acompanhava a criança ao baptismo até ao lençol que amortalhava os defuntos.
Também usado na Igreja, que sempre foi buscar à natureza os tecidos mais puros, nas toalhas, alvas, corporais e sanguinhos.
Dos desperdícios do linho fazia-se a estopa, para tecidos mais grosseiros - camisas de homem e lençóis. Dos desperdícios da estopa fazia-se os tomentos, tecido muito grosseiro, utilizado na confecção dos colchões.
Linho fresco florindo
Bendita flor por nosso amor abrindo
Cresce e floresce por graça do amor
E fiado serás
E alvo como a tua alma ficarás
Alvo ou trigueiro
Que rico cheiro!
E fiado serás
E com frescor as chagas cobrirás
Santa frescura
Consola e cura
E fiado serás
E nossos mortos amortalharás
Linho ou estamenha
Deus lá os tenha
(Afonso Lopes Vieira)