Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.

É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.

Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.

Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.

A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".


A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.

A feira do Folar de Valpaços

Mostrar mensagens com a etiqueta texto de alexandre parafita. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta texto de alexandre parafita. Mostrar todas as mensagens

sábado, 26 de março de 2016

Mistérios e mitos das Endoenças em Trás-os-Montes

Foto retirada da Internet





Mistérios e mitos das Endoenças em Trás-os-Montes

Em muitas comunidades transmontanas celebra-se nestes dias a tradição das Endoenças, um ritual carregado de emoção, especialmente em Vinhais, quando narra a procura desesperada de Cristo por Nossa Senhora, ora seguindo pelas ruas o seu rasto de sangue, ora perguntando a uns e outros se alguém o viu.
Mas endoenças é sinónimo de indulgências, portanto remissão de pecados, uma prática que noutros tempos adoptava rituais expiatórios tenebrosos, com autoflagelação pública nas procissões. A memória dos povos não apagou ainda os cortejos de penitentes e flagelados da “Quinta-feira de Endoenças”. Pessoas que aliviavam a consciência pesada das suas culpas procurando imitar o sofrimento infligido a Cristo pelas culpas do mundo. Por isso se autoflagelavam nas procissões. E ao seu lado seguiam familiares com bacias e panos para evitar que o sangue da autoflagelação fosse derramado no chão.
Em algumas aldeias transmontanas o rigor da Semana Santa ainda hoje é respeitado com a máxima devoção e fé. Ao meio dia de quinta-feira toca o sino e as pessoas param por completo de trabalhar mal ouvem soar a primeira badalada. Com excepção dos mínimos afazeres domésticos, ninguém trabalha até sábado à mesma hora. De assinalar também que, nesse período de tempo, há pessoas idosas que não se penteiam (porque podem “arrepelar Nosso Senhor”), não cozem pão porque dizem que aparece sangue na massa ou nas broas (é o “sangue de Nosso Senhor”), não lavam a roupa porque dizem que aparecem manchas de sangue nos panos (as “chagas de Nosso Senhor”).

Fonte: Alexandre Parafita




























































sexta-feira, 27 de março de 2015

Mas que Estado é este, afinal

Foto retirada da Internet



Alexandre Parafita

Sou ainda daqueles que construíram o seu imaginário nas distantes tertúlias domésticas, à volta da lareira, a ouvir as narrativas, mais ou menos lendárias, dos célebres salteadores de estrada.
Começava-se no temerário Zé do Telhado, o tal das "barbas negras", que carregava o ADN de uma temida legião de bandidos, como foram o seu pai Teixeira, o irmão Joaquim e o tio-avô Sodiano. Vinham depois as histórias arrepiantes do "Sancho Pacato", e do "Pichorras", à mistura com as de um tal Custódio "Boca Negra", mais o "Tira Vidas", o "Mói Tudo", o Morgado da "Magantinha" e o Zé Pequeno (um cobardolas denunciante, a quem o Zé do Telhado arrancou a língua...). Pelo meio, falava-se de um sinistro "Labardeiro" que atacava para os lados do Minho, servido por um não menos cruel "Picanço". E com um curriculum de fazer-lhes inveja, também se contavam histórias de um tal "Pita", que investia, disfarçado de padre, nas terras de Basto, encobrindo as pistolas com a sotaina. Os mais temidos refugiavam-se no Marão. À hora menos pensada, saíam das moitas e boqueirões da serra, caindo sobre as malas-postas, a cujos ocupantes indefesos esvaziavam os bolsos e a bagagem. A testemunhar estes episódios, ainda hoje, no alto do Marão, é referenciado, na memória oral, um topónimo: a "Fonte dos Ladrões".
Episódios destes, históricos ou lendários, já diluídos na penumbra do tempo, julgava eu terem ficado nas velhas estradas serpenteadas da serra. Longe estava, pois, de os ver ocorrerem-me à memória, agora que as estradas serpenteadas deram lugar às autoestradas, onde cidadãos incautos e indefesos estão a ser grosseiramente depenados pelo Estado ou por quem o usa a seu belo proveito. Na verdade, por uns míseros dois euros de uma passagem num pórtico de uma ex-scut, que há mais de um ano devia ter pago, e que nem sequer recordo, fui intimado a pagar uma soma de... 112.02 euros (!), sob pena de vir a ser penhorado. Outros cidadãos, igualmente incautos, confrontados com cobranças de valores muito maiores, estão já a enfrentar processos de penhora.
Mas que Estado é este, afinal, que usa e abusa de uma maquiavélica fonte de receitas, extorquindo, indefensavelmente, somas exorbitantes aos cidadãos? Como distingui-lo dos antigos salteadores de estrada, de que falam as lendas? Pelo menos de alguns, como o celebrado Zé do Telhado, encarnando o mito do herói-bandido, ainda se dizia que depenava os ricos para dar aos pobres...

ESCRITOR



































quarta-feira, 30 de julho de 2014

O burro e a autoestrada transmontana



Que tem este burro a ver com a autoestrada transmontana?

Muito. Este grupo de lavradores transmontanos prepara-se para negociar o burro, mas antes está a fiscalizá-lo para garantir que não vai ser enganado. É preciso observar bem a dentadura, de perto e por dentro, pois por fora e à vista desarmada… às vezes engana. Há sorrisos muito traiçoeiros. Por isso, dependendo de quem está a tentar vender o animal, todas as cautelas são poucas.

E quanto à autoestrada? Os transmontanos foram claramente enganados. O governo prometeu-a, recebeu votos por isso, depois construiu-a em cima do traçado da estrada antiga (o IP-4), deixando os utentes sem essa alternativa, e agora prepara-se para cobrar portagens. Mas então quem não quiser (ou não puder) pagar vai circular por onde?

Pobres transmontanos! Tantas cautelas para negociar um burro, e nenhuma para negociar projetos tão vitais para a sua sobrevivência…

Alexandre Parafita























sábado, 21 de junho de 2014

Solstício de Verão - Bruxas e feiticeiros em alerta

                                                         Foto retirada da Internet




Bruxas e feiticeiros em alerta!



Vem aí (hoje) o Solstício de Verão. O sol no seu ápice. Impõe-se o deus doador da luz. Os raios solares ganham força suprema e aterrorizam os poderes das trevas. Um frenesim para bruxas e feiticeiros desde tempos imemoriais. Alguns insinuam encarnar o poder mágico dos deuses pagãos. Coisa séria será, tanto que as práticas pagãs foram sendo absorvidas por festejos cristãos do S. João. Muitas culturas europeias creem nos poderes mágicos e curativos das águas e das plantas neste ciclo festivo. Desde a antiguidade, os casamentos acontecem neste tempo para garantir a fertilidade, sob uma luminosa inspiração dos ritos de fertilidade que acompanhavam os casamentos sagrados das divindades, tal como os celtas festejavam as colheitas e a fertilidade dos campos. Ofereciam-se comidas, bebidas e animais aos deuses, dançava-se à volta de fogueiras para espantar os espíritos malignos.
E porque a celtomania perdura, muitos vão tentar recuperar esta atmosfera mágica subindo ao alto do Marão, na noite de 20 para 21, até à Senhora da Serra (a tal que tem seis irmãs e todas se veem e cumprimentam ao romper o sol). Nesta cumplicidade cósmica, não faltará sequer o mágico supremo Padre Fontes, com a sua anunciada “Queimada do Solstício”. Quem tiver boas pernas que aproveite.

Alexandre Parafita






















sexta-feira, 13 de junho de 2014

A tradição das noivas de Santo António



A tradição das noivas de Santo António



«Houve uma moça que gostava muito do padre Santo António, quando ele era um rapaz novo, e ainda não era dado como santo. Então a moça andava sempre de volta dele, mas ele desviava-se dela quanto mais podia, pois não queria casar. Já não tinha aquela vocação para casar, nem com ela nem com ninguém.
Um dia o pai da moça, que era uma pessoa com muito poder, resolveu vingar-se dele por não lhe querer a filha. E ao mesmo tempo queria fazer com que ela o tirasse do sentido, pois não gostava de ver a filha ao redor dele. E que fez? Mandou-o degolar. Cortaram-lhe então o pescoço e espetaram a cabeça numa estaca.
Mas quando todos pensavam que ele estava degolado e morto, ele apareceu do outro lado da rua a pregar. Ficou tudo admirado:
– O quê?! Então mataram-no e ele está ali vivo e a pregar!?
Foi assim que aquele rapaz ficou com a fama de santo. E dizem também que a moça, com o desgosto, não quis ser de mais ninguém. Sem o ser de verdade, ficou afinal sempre noiva de Santo António. E ao morrer também ficou santa.»

(lenda recolhida em Barcos, Tabuaço)
Alexandre Parafita – Património Imaterial do Douro


























sábado, 1 de fevereiro de 2014

Fevereiro, velhaco e traiçoeiro, matou a mãe ao soalheiro






Fevereiro, velhaco e traiçoeiro

Cuidado com este fevereiro. Ele aí está, o safado. E promete ser como os outros: velhaco e traiçoeiro. Quem hoje, por estas bandas, abrir as janelas dá com ele tal qual é: agora com um sol promissor, depois uma forte ventania, saraivada e uma valente chuvada. Enganador é o que ele é. Afinal, enganou a própria mãe. E “matou-a ao soalheiro”. Em Sabrosa, conta-se que a pobre velhinha, ao olhar pela janela e, vendo o sol a raiar, perguntou ao filho:
– Olha lá, ó fevereiro, hoje não mandas chuva?
– Hoje não – diz ele. – Hoje mando uma ressa de sol.
Ela então pegou na roca e no fuso e foi para o soalheiro fiar. Nisto, o safado mandou vir uma forte saraivada, e a pobre, como era velhinha, não teve tempo de fugir e morreu ali mesmo. Assim se conta em Sabrosa. Noutros sítios conta-se mais: conta-se em Vinhais que o fevereiro fez vir uma ressa de sol e mandou a mãe ao monte nua. A seguir, mandou uma saraivada e matou-a. Por isso, é que o povo diz que ele “é velhaco e traiçoeiro” e que “fevereiro quente traz o diabo no ventre”.

Alexandre Parafita in "Os Provérbios e a Cultura Popular"