Lebução fica situada em lugar alto e aprazível, na margem esquerda do rio Calvo, entre montanhas onde o tempo guardou riquezas e mistérios. A 25km da sede do concelho, goza de um clima de montanha com invernos frios, verões quentes e de paisagens deslumbrantes.
É uma aldeia tradicionalmente vocacionada para a agricultura (centeio, batata, castanha e vinho) e para o comércio de largas tradições. Em tempos remotos, Lebução, foi o centro das transacções comerciais de uma enorme área circundante, que se efectuavam por troca directa de produtos.
Monumentalmente, a Igreja abraça, do alto das suas torres sineiras, todo o casario disposto em anfiteatro e chama os fiéis à oração. É obra da renascença, de muros altos e bem alinhados, construção de uma só nave. O retábulo do altar-mor, é de apreciável valor artístico, com colunas salomónicas e motivos ornamentais e simbólicos, realçando as arquivoltas que guarnecem a abóbada polícroma da tribuna.O Orago da freguesia é S. Nicolau, mas a principal referência religiosa desta terra é Nossa Senhora dos Remédios, que tem o seu dia no calendário religioso - 8 de Setembro.
Aqui, como em todo o Nordeste de Portugal, usa-se uma linguagem oral, um conjunto de termos e expressões que, pouco a pouco, se vão perdendo com a partida dos mais idosos.
A hospitalidade está presente nas vivências diárias, marcadas por um espírito de partilha e solidariedade. A porta das casas de Lebução está sempre aberta para receber, à boa maneira transmontana, "quem vier por bem".
A ideia deste Blogue, surgiu da necessidade de preservar a identidade desta comunidade, aproximando todos os Lebuçanenses da sua terra natal.
sábado, 26 de março de 2016
Mistérios e mitos das Endoenças em Trás-os-Montes
sexta-feira, 27 de março de 2015
Mas que Estado é este, afinal
quarta-feira, 30 de julho de 2014
O burro e a autoestrada transmontana
Que tem este burro a ver com a autoestrada transmontana?
Muito. Este grupo de lavradores transmontanos prepara-se para negociar o burro, mas antes está a fiscalizá-lo para garantir que não vai ser enganado. É preciso observar bem a dentadura, de perto e por dentro, pois por fora e à vista desarmada… às vezes engana. Há sorrisos muito traiçoeiros. Por isso, dependendo de quem está a tentar vender o animal, todas as cautelas são poucas.
E quanto à autoestrada? Os transmontanos foram claramente enganados. O governo prometeu-a, recebeu votos por isso, depois construiu-a em cima do traçado da estrada antiga (o IP-4), deixando os utentes sem essa alternativa, e agora prepara-se para cobrar portagens. Mas então quem não quiser (ou não puder) pagar vai circular por onde?
Pobres transmontanos! Tantas cautelas para negociar um burro, e nenhuma para negociar projetos tão vitais para a sua sobrevivência…
Alexandre Parafita
sábado, 21 de junho de 2014
Solstício de Verão - Bruxas e feiticeiros em alerta
Vem aí (hoje) o Solstício de Verão. O sol no seu ápice. Impõe-se o deus doador da luz. Os raios solares ganham força suprema e aterrorizam os poderes das trevas. Um frenesim para bruxas e feiticeiros desde tempos imemoriais. Alguns insinuam encarnar o poder mágico dos deuses pagãos. Coisa séria será, tanto que as práticas pagãs foram sendo absorvidas por festejos cristãos do S. João. Muitas culturas europeias creem nos poderes mágicos e curativos das águas e das plantas neste ciclo festivo. Desde a antiguidade, os casamentos acontecem neste tempo para garantir a fertilidade, sob uma luminosa inspiração dos ritos de fertilidade que acompanhavam os casamentos sagrados das divindades, tal como os celtas festejavam as colheitas e a fertilidade dos campos. Ofereciam-se comidas, bebidas e animais aos deuses, dançava-se à volta de fogueiras para espantar os espíritos malignos.
E porque a celtomania perdura, muitos vão tentar recuperar esta atmosfera mágica subindo ao alto do Marão, na noite de 20 para 21, até à Senhora da Serra (a tal que tem seis irmãs e todas se veem e cumprimentam ao romper o sol). Nesta cumplicidade cósmica, não faltará sequer o mágico supremo Padre Fontes, com a sua anunciada “Queimada do Solstício”. Quem tiver boas pernas que aproveite.
Alexandre Parafita
sexta-feira, 13 de junho de 2014
A tradição das noivas de Santo António
«Houve uma moça que gostava muito do padre Santo António, quando ele era um rapaz novo, e ainda não era dado como santo. Então a moça andava sempre de volta dele, mas ele desviava-se dela quanto mais podia, pois não queria casar. Já não tinha aquela vocação para casar, nem com ela nem com ninguém.
Um dia o pai da moça, que era uma pessoa com muito poder, resolveu vingar-se dele por não lhe querer a filha. E ao mesmo tempo queria fazer com que ela o tirasse do sentido, pois não gostava de ver a filha ao redor dele. E que fez? Mandou-o degolar. Cortaram-lhe então o pescoço e espetaram a cabeça numa estaca.
Mas quando todos pensavam que ele estava degolado e morto, ele apareceu do outro lado da rua a pregar. Ficou tudo admirado:
– O quê?! Então mataram-no e ele está ali vivo e a pregar!?
Foi assim que aquele rapaz ficou com a fama de santo. E dizem também que a moça, com o desgosto, não quis ser de mais ninguém. Sem o ser de verdade, ficou afinal sempre noiva de Santo António. E ao morrer também ficou santa.»
(lenda recolhida em Barcos, Tabuaço)
Alexandre Parafita – Património Imaterial do Douro
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Fevereiro, velhaco e traiçoeiro, matou a mãe ao soalheiro
Cuidado com este fevereiro. Ele aí está, o safado. E promete ser como os outros: velhaco e traiçoeiro. Quem hoje, por estas bandas, abrir as janelas dá com ele tal qual é: agora com um sol promissor, depois uma forte ventania, saraivada e uma valente chuvada. Enganador é o que ele é. Afinal, enganou a própria mãe. E “matou-a ao soalheiro”. Em Sabrosa, conta-se que a pobre velhinha, ao olhar pela janela e, vendo o sol a raiar, perguntou ao filho:
– Olha lá, ó fevereiro, hoje não mandas chuva?
– Hoje não – diz ele. – Hoje mando uma ressa de sol.
Ela então pegou na roca e no fuso e foi para o soalheiro fiar. Nisto, o safado mandou vir uma forte saraivada, e a pobre, como era velhinha, não teve tempo de fugir e morreu ali mesmo. Assim se conta em Sabrosa. Noutros sítios conta-se mais: conta-se em Vinhais que o fevereiro fez vir uma ressa de sol e mandou a mãe ao monte nua. A seguir, mandou uma saraivada e matou-a. Por isso, é que o povo diz que ele “é velhaco e traiçoeiro” e que “fevereiro quente traz o diabo no ventre”.
Alexandre Parafita in "Os Provérbios e a Cultura Popular"